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O Paraná – pelos seus poderes legislativo e executivo e a sociedade em geral – está prestando merecidas homenagens comemorativas ao centenário de nascimento, 17.12.1905, do seu eminente filho, nascido em Paranaguá, Bento Munhoz da Rocha Neto, cuja vida pública de honradez, fidelidade aos ideais democráticos e realizações que o tempo não apaga lhe dão estatura e magnitude de um verdadeiro estadista.

Católico praticante e anticomunista declarado, não lhe faltou altivez cívica para votar contra a injusta e antidemocrática cassação, em 1948, dos mandatos dos parlamentares do Partido Comunista, posto fora da lei por decisão da Justiça Eleitoral.

Embora a Revolução de 1930 tenha interrompido o domínio político no Paraná das famílias Munhoz e Camargo, Bento manteve tratamento respeitoso ao presidente Getúlio Vargas, quando ambos governaram simultaneamente o estado e a Nação, eleitos em 3 de outubro de 1950. É bem verdade que o povo já sacramentara essa convivência harmoniosa ao ecoar por todos os rincões o grito da dobradinha "Getúlio e Bento" (PTB e Partido Republicano), coligação não oficializada pelas suas agremiações.

Preocupado com as questões humanitárias, Bento criou a Secretaria do Trabalho e Assistência Social e convidou para seu titular o principal líder trabalhista Abilon de Souza Naves. Este foi eleito para o Senado em 1958 e seria governador em 1960, porém faleceu de mal súbito e seu suplente Nelson Maculan o substituiu na candidatura.

Bento apoiou Maculan decididamente para o Palácio Iguaçu, mas Ney Braga saiu vitorioso. Ney fora colocado na política por Bento, que o nomeou chefe de Polícia e posteriormente patrocinou seu nome e levou-o à vitória no pleito para prefeito de Curitiba, em 1954. Ney palmilhou caminhada ascensional: governador duas vezes, senador e ministro da Agricultura e da Educação.

Em 1958, Ney Braga candidatou-se a deputado federal e sozinho somou legenda para o Partido Democrata Cristão (PDC), sendo o segundo mais votado no estado; o primeiro foi Jânio Quadros do PTB. Para obter essa grande votação, ele penetrou nos redutos do Bento, que também se elegeu para o Câmara. Desde então, Bento e Ney romperam seus vínculos e nunca mais se reconciliaram politicamente.

Descrevi esse rápido retrospecto histórico para exalçar a grandeza de caráter de Bento Munhoz, que disputou o Senado em 1962 e teria todas as possibilidades de ser sufragado pelo antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em retribuição ao apoio dele a Maculan.

Bento procurou a direção partidária trabalhista e a liberou de qualquer compromisso moral, justificando que votaria pela não aprovação do professor San Thiago Dantas para primeiro-ministro (indicado pelo presidente da República João Goulart no curto período parlamentarista – 1961 a 1963) e que estava na oposição ao governo central e, assim, não seria honesto pleitear o voto dos getulistas. O PTB coligou-se com o governador Ney Braga e foram eleitos para o Senado Amaury de Oliveira e Silva (PTB) e Adolpho de Oliveira Franco (UDN). Bento perdeu a eleição, mas se conservou inflexível nos seus princípios.

Em 1965 (pós golpe de 64), o PTB declinou da candidatura própria a governador e decidiu integrar a coligação de partidos pró-Bento. Na Convenção Regional do PTB, a tese da candidatura própria obteve um terço dos votos dos convencionais, que desejavam que eu fosse o candidato ao Palácio Iguaçu, viabilizado pela chamada "Emenda Léo" do deputado Aníbal Khury, que reduziu a exigência constitucional de idade mínima de 35 para 30 anos.

Proclamado o resultado, integrei a Comissão que se dirigiu à residência do candidato para trazê-lo ao local da Convenção e me dediquei à campanha pelo rádio, televisão e comícios. Todavia, Paulo Pimentel, lançado por Ney Braga, sagrou-se vencedor.

Os insucessos do Bento ao Senado Federal e ao governo do estado não lhe desmereceram a biografia, pelo contrário, a enalteceram porque ele realizou campanhas modestas, não aceitando ajudas financeiras comprometedoras, não ofereceu cargos e partilha de poder a ninguém, não fez concessões ideológicas ou políticas de espécie alguma e não usou de baixarias ou agressões éticas aos adversários, mantendo alto nível na exposição de seus planos de administração.

Bento não recorria nos seus discursos à demagogia fácil para enganar os eleitores, ainda que tribuno magistral, vibrante, de recursos ilimitados. A voz empostada, pronunciava nitidamente as sílabas e era inigualável tanto nas frases longas, com orações intercaladas, como nas curtas, de efeito sonoro.

Ficou famosa desde a campanha eleitoral para governador em 1947 (candidato de protesto somente do Partido Republicano, suplantado por Moysés Lupion, que reunia todos os demais partidos) sua expressão: "Ponta Grossa rebééélde", repetindo os "és" e com a pronúncia do "éle" encostando a língua no céu da boca (ele ganhou na "Capital Cívica do Paraná").

Munhoz da Rocha teve fulgurante desempenho como deputado federal constituinte em 1946, cabendo-lhe o mérito da extinção do Território Federal do Iguaçu e a reincorporação dessa extensa área ao estado do Paraná. Como 1.º secretário da Mesa e com discursos de plenário no Grande Expediente extravasou cultura e espírito público e conquistou sólido prestígio por todo o território nacional.

(Continua)

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