Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
BOM DIA

Facções, tráfico humano, vingança e os mecanismos sutis da violência

 |

Bom dia!

Quase duas semanas depois do início da onda de violência no Ceará, um terço dos capturados por suspeita no envolvimento dos ataques criminosos é adolescente. Há denúncias de que facções criminosas estão ameaçando de morte adolescentes e familiares, além de cooptar os jovens e adultos com pagamento de R$ 1 mil pela queima de veículos e até R$ 5 mil pela explosão de viadutos. A defensora Patrícia de Sá conta que existem basicamente três perfis de jovens:

Há aqueles que já tinham envolvimento anterior com a facção e participaram, há os que não têm envolvimento, mas eventualmente foram pagos para fazerem alguns atos criminosos, e outros agem por medo e ameaça das facções.

Atentado

Falando em violência, um atentado contra um prefeito chocou a Polônia na noite do domingo (13). Pawel Adamowicz, prefeito de Gdansk, morreu após ser esfaqueado no coração em um evento de caridade diante de centenas de pessoas por um homem de 27 anos que invadiu. Adamowicz ainda passou por uma cirurgia, mas não resistiu. O agressor foi preso imediatamente.

Com as próprias mãos?

O recurso à violência é uma tentação sutil. Na editoria de Justiça, Thiago Cordeiro reuniu 10 casos em que fazer justiça com as próprias mãos deu margem a mais injustiça. Entre linchamentos de pessoas inocentes, prejuízos a investigações sérias, assassinatos bárbaros e a ação de milicianos, as histórias deixam claro que a brutalidade e a violência só se multiplicam quando as leis e o Direito são deixados de lado.

De volta ao lar

Isso vale mesmo quando a Justiça demora quase 40 anos para ser cumprida. Foi esse o suspiro aliviado dos familiares das vítimas de Cesare Battisti, que desembarcou na Itália na manhã desta segunda (14). Ele cumprirá sua pena de prisão perpétua em uma ala de segurança máxima da penitenciária de Rebibbia, em Roma.

André Gonçalves, do blog Conexão Brasília, relembra a repercussão da decisão do então presidente Lula (PT) de não extraditar o criminoso – Battisti, aliás, invocou a autoridade do petista no pedido de asilo que fez às autoridades bolivianas: Lula teve "a certeza de que minha pessoa não era aquele monstro que o governo italiano tentava construir", disse.

Sutil cumplicidade

Uma das modalidades de violência mais atrozes é o tráfico humano, frequentemente alimentado pela violência sexual. Esse é outro contexto em que a violência pode se manifestar inicialmente de forma sutil, a ponto de ser até mesmo normalizada e referendada por determinada cultura. O artigo de Kevin Malone, presidente e cofundador do Instituto Americano Contra o Tráfico Humano, aborda uma verdade incômoda a respeito do tema:

Até diminuirmos o número de pessoas dispostas a pagar por sexo, cada vítima [do tráfico humano] resgatada será substituída por outra. A verdade incômoda é que nossa sociedade hipersexualizada criou um ambiente em que pagar por sexo é considerado aceitável, mesmo que ilegal. [...] Enquanto a demanda por compras sexuais existir, os traficantes irão preenchê-la com vítimas – mesmo que isso signifique usar coerção. O lucro médio anual gerado por uma mulher em servidão sexual forçada é de US$ 100 mil. Esse é um número atraente para um criminoso que procura ganhar dinheiro fácil. O ciclo não termina a menos que acabemos com a demanda.

Vácuo

Em um cenário como esse, não é de estranhar que também o discurso político esteja permeado de agressividade e que seja tão difícil encontrar lideranças que rejeitem essa lógica. No editorial desta segunda (13), a Gazeta do Povo aponta o vácuo de liderança que se formou em um contexto global dominado por governantes extremistas com pouco apreço pela democracia – e que, para piorar, justificam suas posições com base na “defesa dos valores judaico-cristãos”, o que deixaria grandes pensadores judeus e cristãos dos últimos séculos de cabelos em pé. O editorial afirma:

O próprio sistema multilateral contou, em sua construção, com a participação de políticos de fé cristã profunda. As estruturas iniciais das entidades que, depois, se tornariam a União Europeia, por exemplo, vieram da mente de três católicos convictos: o italiano Alcide de Gasperi, o alemão Konrad Adenauer e o luxemburguês radicado na França Robert Schuman, que levaram o sistema europeu a adotar princípios como o da subsidiariedade, um pilar da Doutrina Social da Igreja Católica. Lamentável, portanto, que Viktor Orban e os poloneses do Lei e Justiça estejam transformando uma boa intenção em más práticas, dando um verniz nacionalista-religioso a medidas que contradizem a tradição que eles pretendem defender.

País das maravilhas

O ditador venezuelano Nicolás Maduro é, evidentemente, outro exemplo de liderança extremista cujo modus operandi parece projetado para nutrir todo tipo de violência. Nesta segunda (14), em um discurso de mais de três horas, ele fez um balanço do ano passado e apresentou sua proposta de governo para os próximos anos – pintando um quadro muito positivo de sua gestão.

Maduro voltou a criticar Bolsonaro, a quem chamou de “Hitler dos tempos modernos”. Ele também ironizou a detenção do presidente da Assembleia Nacional, o opositor Juan Guaidó, dizendo que o caso foi um “show midiático”. Em sua coluna, Filipe Figueiredo descortina peça a peça o xadrez global de posicionamentos a respeito da legitimidade do mandato de Maduro.

Previdência

A discussão sobre como se deve reformar a Previdência precisa ser ainda mais ampla do que inicialmente podemos julgar. No blog A Protagonista, Madeleine Lackso explica como funciona a Previdência do Chile, a 8ª melhor do mundo, mas alerta: ainda assim, o país é o campeão disparado no continente americano de suicídios entre idosos. Descubra qual a relação entre essas duas realidades

O colunista Pedro Menezes, por sua vez, argumenta que uma esquerda realmente preocupada com a desigualdade deveria assumir o tema da reforma da Previdência como prioridade. A Previdência, o mais caro dos nossos programas sociais, têm um impacto sobre a desigualdade que na melhor das hipóteses é de zero – talvez seja mesmo negativo. Ele escreve:

Nosso regime previdenciário deveria ser tratado pela esquerda como um desastre. Hoje, é o maior inimigo de quem defende um Estado de Bem-Estar Social no Brasil, assim como daqueles que enxergam nos investimentos de infraestrutura uma saída para o baixo crescimento. Os valores que supostamente guiam a esquerda brasileira não se manifestam no debate sobre a reforma previdenciária, no qual esta prefere se alinhar a servidores privilegiados e a brasileiros no topo da pirâmide social.

No Planalto

Abacaxi. Depois de muito bate-cabeça nas duas primeiras semanas de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) escolheu nesta segunda (14) o porta-voz de seu governo: o general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros, que até agora desempenhava o cargo de chefe de Comunicação do Exército.

Milagre. O gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados atestou frequência total de sua ex-assessora Nathalia Melo de Queiroz – filha de Fabrício Queiroz – entre dezembro de 2016 e outubro de 2018. Não há registros de faltas injustificadas ou licenças no período, embora tenha sido revelado que Nathalia atuava, na verdade, como personal trainer – deu aula até para Bruna Marquezine.

Atritos. Olavo Soares, da editoria de República, traça um perfil do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), o braço-direito de Bolsonaro que tem colecionado atritos com seus colegas do alto clero do governo, como o ministro da Economia Paulo Guedes e o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Não é nada fácil ser governo depois de pelear 14 anos na oposição, ainda mais tendo o perfil aguerrido de Onyx.

Brexit

O Parlamento Britânico vai votar nesta terça (15) o acordo de saída da União Europeia, apresentado pela primeira-ministra Theresa May. Há pouquíssimas chances de que o plano seja aprovado, já que recebe críticas da oposição e dos aliados. Entenda os cenários possíveis para o Reino Unido e o Brexit.

Imagem do dia

Inspiração

Até que a morte os separe

Conviver com a ausência da pessoa escolhida para passar o resto da vida não é nada fácil. No Sempre Família, Lorena Lafraia entrevista especialistas que falam sobre como viver a situação de viuvez – e como apoiar um parente ou amigo que passa por essa experiência.

Do lado certo da história

Você sabe qual é o lado certo do papel alumínio? No Bom Gourmet, Marina Mori explica tudo sobre como aproveitar as peculiares do lado brilhante e do lado fosco do utensílio.

Design

PF vs. X-Tudo

Sanduíches de fast foods são os vilões da saúde moderna? Um estudo recente publicado no British Medical Journal revela que o perigo pode estar, também e com mais frequência, no bom e velho prato feito brasileiro. Adriano Justino explica a controvérsia no Viver Bem.

No Paraná

Fique de olho. IPVA e DPVAT, impostos com vencimento no fim de janeiro, já podem ser pagos pelos motoristas no Paraná. Mas e o licenciamento de veículos? Confira o calendário na matéria de Giulia Fontes.

Fiancinha. O ministro Dias Toffoli determinou a substituição da prisão preventiva do empresário Jorge Atherino, preso no âmbito da Operação Piloto, por adoção de medidas cautelares. O juiz da 23ª Vara Federal de Curitiba, então, definiu, entre outras obrigações, o pagamento de R$ 8 milhões como fiança para o ex-aliado de Beto Richa. Saiba mais na reportagem de Catarina Scortecci.

Entra e sai. A dança das cadeiras na Assembleia Legislativa do Paraná, com data marcada para 1º de fevereiro, não inclui apenas os deputados. Os 1,5 mil comissionados que atualmente trabalham na Casa serão exonerados – eles custam R$ 5,2 milhões por mês. Uma nova leva de servidores será contratada por indicação dos parlamentares em início de mandato – cada um pode nomear até 23 pessoas. Confira na matéria de Cristina Seciuk.

Tenha uma ótima terça-feira!

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.