Bom dia!
Depois de mais de seis horas de cadeira, a vontade de ir para casa estava estampada na testa de alguns dos parlamentares que acompanharam a audiência com Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados nesta quarta (3).
O jovem presidente da comissão, Felipe Francischini (PSL-PR), de apenas 27 anos, era um deles – pudera, ele já tinha passado pelo sufoco de apaziguar tanto o ministro da Economia quanto os deputados da oposição. Até que a coisa fugiu do controle de vez e Francischini conseguiu uma boa razão para declarar a audiência encerrada.
Mas vamos começar do começo. Nossa correspondente Jéssica Sant’Ana esteve lá e conta o que rolou na audiência. Primeiro, a argumentação de Guedes:
- O ministro elencou quatro bombas que tornam o atual sistema previdenciário insustentável – e impôs uma condição para lançar o sistema de capitalização.
- Guedes defendeu também que, num primeiro momento, a Nova Previdência não inclua encargos trabalhistas para as empresas, com o fim de gerar um choque de empregabilidade entre os mais jovens.
- Ele detalhou ainda o gatilho incluso no texto que permite que o governo eleve a idade mínima para a aposentadoria toda vez que a expectativa de vida do brasileiro aos 65 anos aumente.
O clima da audiência, que já começou tensa, foi esquentando ao longo das primeiras quatro horas de trabalhos. A água ferveu pela primeira vez quando a oposição – no caso, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) – partiu para o ataque, acusando Guedes de estar contra os mais pobres. O ministro não gostou e cobrou a inação da situação durante os governos petistas:
Vocês estão há quatro mandatos no poder. Como é que não votaram imposto sobre dividendo? Por que que deram benefícios para bilionários? Por que que deram dinheiro para a JBS?
Mas a coisa ficou feia mesmo à noite. O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) acusou o ministro de ser “tigrão” com os pobres e “tchutchuca” com os ricos. Foi a gota d’água. Guedes reagiu – “tchuchuca é a mãe, é a vó” – e, mesmo com os microfones cortados, os dois continuaram o bate-boca. A algazarra se instaurou. Francischini deve ter experimentado um misto de desespero e alívio: estava na hora de ir para casa.
Pacotão do destrave
Nem só de reforma da Previdência vive Paulo Guedes. O Ministério da Economia prepara um pacote de medidas para “destravar” a economia. A medida inclui quatro grandes planos: Simplifica, Emprega Mais, Brasil 4.0 e Pró-mercados. Saiba em que consiste cada um.
No editorial desta quinta (4), aliás, a Gazeta do Povo elogia o trabalho dos dois “superministérios” do novo governo, o da Economia e o da Justiça e Segurança Pública:
Enquanto alguns ministérios colecionam polêmicas, os ministérios ditos “terceirizados” do governo ganham autonomia, força e levam suas pautas adiante. (...) O Ministério da Economia está demonstrando como um ministério deve funcionar: com profissionalismo, projetos e objetivos claros.
Passou de novo
A PEC do orçamento impositivo, aprovada em um estalar de dedos pela Câmara, passou também pelo Senado. Assim como na outra Casa, os dois turnos aconteceram no mesmo dia – nesta quarta (3) – e a resistência foi pequena. Entenda o que muda com a emenda.
- Fernanda Trisotto elenca seis medidas que o governo pode tomar para lidar com a limitação orçamentária. Parar de contratar servidores é uma delas.
Funciona?
O Estado de bem-estar social talvez não esteja tanto assim do lado dos mais pobres. Luan Sperandio analisa uma série de dados para concluir que os maiores beneficiados dos serviços públicos são os que menos precisam, enquanto os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos. Um exemplo são as universidades:
Quase metade das vagas das universidades públicas são ocupadas pela classe alta, o dobro de sua representação na sociedade. Apenas 8,4% das vagas são ocupadas pela classe baixa (...). Subsidiar a educação superior dos mais ricos enquanto os mais pobres sequer terminam o ensino médio resulta em transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. É uma despesa socialmente regressiva.
Ideal
A HAUS entrevistou o especialista em mobilidade urbana Benjamin de La Peña, chefe de Estratégia e Inovação do Departamento de Transporte de Seattle, nos Estados Unidos. Na conversa que teve com Camila Machado, La Peña apontou o que é uma cidade ideal em termos de mobilidade.
Imagem do dia
Binariedade que atrapalha
Gustavo Nogy recorda que as noções de esquerda e direita são muito mais flexíveis e imprecisas do que costumamos supor. Ele traça a história desses conceitos e defende:
Ao dizer que a direita é isso e a esquerda é aquilo, assim, preto-no-branco, desistimos de usar conceitos muito mais claros e férteis na discussão política (...). Usar e abusar dos agrupamentos ideológicos, dos instintos quase tribais de quem se diz de direita ou esquerda, é truque velho de manipuladores. Lula sempre usou muito bem isso. Bolsonaro, bom aprendiz, também usa.
Na cozinha
Para terminar, duas dicas gastronômicas:
- Manteiga, margarina ou banha de porco: o que é mais saudável? Amanda Milléo responde a essa pergunta no Viver Bem.
- Direto de Lisboa, o chef de uma pastelaria premiada ensina como se faz um legítimo pastel de nata. No Bom Gourmet, Mada Pereira repassa o segredo.
Tenha uma excelente quinta-feira!
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