Muita gente pensa que jihadistas são vítimas e que devemos ceder à pressão e obedecê-los. Fofo, não?

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Por que é tão difícil aceitarmos que nossa espécie gosta de matar? Isso não significa que isso seja "bonito". Há anos leio sobre pré-história, e isso mudou minha visão de mundo. Um dos efeitos é ver os fatos contra uma cadeia gigantesca de tempo. O mundo não começou com o capitalismo. Novidade? Para alguns parece ser.

Passado alguns dias dos ataques terroristas em Paris, podemos catalogar algumas conclusões.

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Antes de tudo, percebemos que a "intelligentsia especializada" continua rezando na cartilha besta da opressão X oprimidos e colocando o jihadismo na conta do colonialismo do século 19 e do preconceito.

Sabemos, também, que o grupo terrorista Hamas condenou o ataque à revista, mas não o assassinato dos quatro judeus franceses. Logo, para o Hamas, matar judeus é OK. E mais: muita gente acha que devemos ceder à pressão dos jihadistas e obedecê-los. Fofo, não? Todo mundo que acha jihadista vítima social devia passar uns dias com eles.

Quanta bobagem! Os jihadistas não vão mudar de ideia porque alguma pacifista de Facebook crê que tomando uma cerveja na Vila Madalena tudo ficará bem. Aliás, aos pacifistas, desejo um inventário bem difícil por um apartamento na Praia Grande. Quando isso acontecer, o pacifismo se afogará no ódio pela irmã que disputa o belo imóvel.

Em filosofia, existe uma coisa que se chama "causa ocasional". Causa ocasional é aquilo que "aproveitando" um processo que lhe precede, transforma algo em real num dado momento.

O colonialismo é apenas causa ocasional do que acontece hoje. Onde estava o colonialismo nas Cruzadas? Onde estava o colonialismo quando o Império Otomano massacrou centenas de milhares de pessoas por cerca de 500 anos?

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Repito: o colonialismo é apenas causa ocasional na nova onda de violência entre muçulmanos e europeus. Entretanto, essa violência não é fruto primeiro do colonialismo, mas sim do fato de que grupos humanos se matam seja lá por que causa for, e europeus e muçulmanos se matam há séculos. O colonialismo funciona para os bonitinhos como justificativa do jihadismo.

Os povos invadem uns aos outros desde a pré-história. Onde estava o colonialismo 50 mil anos atrás? Já sei, dirão os bonitinhos que lá também havia "opressor e oprimido". Sapiens sapiens opressor, neandertais oprimidos?

Quem é o opressor na Nigéria? O Boko Haram ou as pessoas que eles matam a rodo? E entre os Estado Islâmico e o tanto de gente que ele degola ou transforma em escravo? Quem era o oprimido no combate entre turcos otomanos e cristãos nos séculos 15 e 16?

Outro absurdo é dizer que o terrorismo islâmico na Europa é uma importação do conflito israelo-palestino. Isso, aliás, é o que os jihadistas querem, pensando que o Ocidente rifará o Estado de Israel em troca de poder tomar café em Paris em paz.

Para os jihadistas, Israel é um estado cruzado. Logo, é o contrário do que os "especialistas" dizem: o conflito israelo-palestino é que é parte do atavismo que envolve europeus e islâmicos, desde as cruzadas, chegando ao império turco, à sua falência e a seu espólio.

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Em muitos países de maioria muçulmana, cristãos são perseguidos. No Irã, por exemplo, é comum que pastores sejam presos por pregar o cristianismo, porque é proibido converter muçulmanos a outra religião. Cadê os bonitinhos que não "denunciam o preconceito" aqui?

Pergunto aos bonitinhos: quem é o opressor e o oprimido aqui? Ou no caso de cristãos amedrontados no Níger? Dirão os bonitinhos que o cristianismo é uma religião de brancos ricos. Mesmo que no Níger os cristãos sejam negros e pobres?

A defesa boba que a esquerda faz do jihadismo (fingindo que não faz, falando de "respeito ao outro" ou de "preconceito") é mais uma prova de que a intelligentsia acadêmica está morta.

Sabemos, também, que após o jihadismo matar tanta gente no Oriente Médio, no Paquistão e na África, ninguém nunca ter feito manifestação nenhuma é prova de que essa gente é bucha de canhão mesmo. Essa gente pode morrer de baciada que não atrapalha nosso "queijos e vinhos". Quem o jihadismo não pode matar mesmo é gente chique.

Luiz Felipe Pondé, escritor, filósofo e ensaísta, é doutor em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da FAAP.

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