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Em anos passados, no cumprimento de eventuais acontecimentos protocolares da Cruz Vermelha Internacional, tive a missão de representar o Brasil em vários eventos continentais ou universais.

No primeiro caso em convívio com nossos irmãos da América Latina, da Patagônia ao México, tive ensejo de observar a maior afinidade entre as nações de língua espanhola do que com "a pátria amada" único laringe português a bradar em tom diferente dos demais. No mínimo um patinho feio ou um estranho no ninho. Os portenhos extrapolando empáfias seriam mais antipáticos. Mas eram do grupo e se entendiam.

Trazendo desde os bancos primários a esdrúxula figuração de uma guerra, sempre contra a Argentina, passei a cismar que em qualquer pendência que tivéssemos com qualquer de nossos irmão latinos, eles estariam inflexivelmente unidos contra os descobertos por Cabral. O idioma é um elo muito forte na congregação dos povos e não adianta apelar para a boa vontade e alegria com que somos recebidos em outras pátrias a falarem em Pelé, Garrincha, Ronaldinho e Ronaldões, o que temos e não nos falta.

Tanto assim que em um conclave Internacional na Hungria, fui determinado para honrar com um jantar os representantes da língua portuguesa: Angola, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste, todos da raça negra. Fiz o que me coube engrenando sorrisos e boas maneiras, afirmando na oração protocolar um Brasil enaltecido pela ilustre companhia à qual saudava com um abraço do tamanho de nossas fronteiras. O cel. Fonseca, secretário e suspeito, achou minha fala excelente. Os homenageados, entretanto, não assistiram à mesma missa. Não tugiram, nem mugiram, não tossiram, nem agradeceram, permanecendo calados e mudos, antes, durante e depois da digestão.

Todo esse preâmbulo para repetir o que a imprensa mundial já registrou, o embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Luis Alberto Moreno, eleito presidente do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, eleito para substituir seu antecessor, o uruguaio Enrique Iglesias a partir de l.º de outubro.

A noticia em nada nos importaria, não fosse perdedor o conterrâneo, João Sayad, a contar com apenas seis votos do Hemisfério Sul – Bolívia, Chile, Argentina, Haiti, Suriname e Venezuela –, contra 21 de seu oponente, seja o restante da América com exceção do Peru que apresentou candidato próprio.O Uruguai que foi nosso estado de 1824 a 1828, e o Paraguai com Cidade Del Este, Itaipu, Ponte da Amizade, Mercosul, limites geográficos e tudo, votaram contra. Os Estados Unidos, que respondem por 30% do capital do BID, foi o grande articulador do pleito, influindo decisivamente nos votos do México, Canadá e a América Central. Uma grande advertência para Lula que arvorado em líder dos pobres deu as costas para o Senhor Sam, um tio que não perdoa. Nosso presidente confiava na vitória em virtude das promessas de Hugo Chávez, da Venezuela, que lhe garantira os votos de todo o Caribe. Não deu nenhum. João Sayad recebeu o apoio de apenas 11 países, o que representa 33,6% do capital do banco. Ao término, o brasileiro foi discreto em sua reação: "Espero que o ganhador faça um bom serviço para o BID". O Itamaraty sofreu recriminações pelo insucesso ao não se esforçar quanto devia. "Trabalharam contra, mandaram um emissário de segundo escalão para falar com os japoneses e jogaram a toalha antes do tempo."

O noticiário acrescenta o fiasco anterior de nosso governo com a derrota da candidatura tupiniquim à direção da Organização Mundial de Comércio em maio último.

O Brasil vem lutando por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU posição máxima que um país pode alcançar na hierarquia do planeta.

Estabelecido pela "Carta de São Francisco" em junho de 1945, nos estertores da Segunda Guerra Mundial, a ONU começou a funcionar em Nova Iorque a partir de outubro do mesmo ano. Iniciada com 51 nações, a Instituição organizou-se com um Conselho de Segurança, integrado por 15 membros, dentre os quais apenas cinco com direito a veto, Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha, França e China, os vencedores do magno conflito do século. Um conflito que contou com cerca de 50 países em favor dos aliados, inclusive o Brasil com sua força expedicionária. Os coadjuvantes, de maior ou menor porte, não foram todavia referidos, uma vez que suas ações não se constituíram em elementos decisivos para a vitória.

A ONU passou por varias transições e alterações em seus códigos, postulados, regulamentos, estruturas, até a Guerra Fria entre os Estados Unidos e União Soviética, terminada com a aproximação de Gorbachew a Ronald Regan, autores da queda do muro de Berlim. Hoje tendo como membros todos os países do mundo, 191, numa pretensão há anos iniciado pela Alemanha e Japão mais o Brasil e a Índia, formam o "grupo dos G4" defensores de um projeto que os coloca no grupo dos "com direito a veto", aumentado para 11 com a inclusão de dois paises africanos. Os "sem-direito a veto" seriam l5.

Várias facções se digladiam com outras propostas, uma delas exercida pela Itália com apoio da Argentina, Espanha, Canadá, México, Paquistão.

Uma guerra de foice a se decidir brevemente em busca da colocação suprema na corte das nações.

Algo sobrará para o Brasil ou o Brasil sobrará de novo?

Lauro Grein Filho é presidente da Cruz Vermelha e do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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