Embora a negociação para ampliar a liberalização dos fluxos comerciais ainda esteja pendente dos resultados da reunião da Organização Mundial de Comércio marcada para este mês de dezembro em Hong Kong, o impulso decisivo já foi dado no sentido irreversível de abertura dos mercados dos países em geral. Essa baliza da globalização econômica marcha em paralelo ao surgimento de um mundo multipolar, em que atores equivalentes exercerão papéis de maior equilíbrio, pela primeira vez após o fim da guerra fria. Tais evidências ganharam força com o alinhamento dos Estados Unidos ao Grupo dos 20 principais produtores agrícolas, para levar adiante a "Rodada de Doha" de negociações comerciais e a decisão do Senado norte-americano, de fixar calendário para o desengajamento no Iraque.

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Nas últimas semanas ainda, assistimos à explosão dos grupos de jovens excluídos da França, multiplicando os problemas colocados à mesa das decisões para os líderes de nosso tempo. É que, se de um lado os governantes franceses e europeus precisam atender ao desejo de inclusão de seus segmentos expostos, de outro resistem à flexibilização das regras de intercâmbio com o restante do mundo, ciosos da preservação de sua "Fortaleza Europa".

De fato, os líderes do Velho Continente estão colocados entre a cruz e a espada, com seus custos sociais elevados mas ainda insatisfatórios (como se nota com as demandas dos jovens filhos de imigrantes) e sua dificuldade para sustentar um ambiente econômico competitivo à base de salários 5 vezes superiores aos dos vizinhos do Leste e até 30 vezes maiores do que os da China.

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É por isso que a França lidera a resistência da União Européia em abrir mão dos seus pesados subsídios agrícolas, apesar da pressão da OMC, dos Estados Unidos e dos países emergentes que são fortes produtores de bens agropecuários, como o Brasil.

Nas relações políticas internacionais a "repactuação" – como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chama essa redefinição mundial – vai fazendo surgir o novo mundo multipolar, com reequilíbrio de papéis entre os atores que sobreviveram à turbulência pós-guerra fria. Nos Anos 90 o desmantelamento da União Soviética ensejou o florescimento dos Estados Unidos como única superpotência global, o que levou a liderança daquele país, em especial sob o atual presidente, a expandir presença por todos os continentes.

Porém a resolução do Senado norte-americano fixando limites para a progressiva transferência do controle para as forças locais no Iraque, responde à crescente resistência da opinião pública sobre o assunto e antecipa a linha das próximas eleições internas no país: a busca de um cenário de estabilidade requer, mesmo para a superpotência de nosso tempo, uma atuação coordenada com os demais atores mundiais. O Brasil tem um papel a jogar nessa construção de um mundo compartilhado, com seus valores de flexibilidade e tolerância.