O professor Eduardo Gianetti, economista e filósofo, fez um sério alerta sobre o fato de o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, ter jogado fora duas chances de se tornar um país rico e sobre estar, agora, diante da terceira grande chance, mas correndo o risco de, mais uma vez, jogar fora essa oportunidade para ele, a última. Segundo Gianetti, esse risco está numa causa: a complacência, a crença de que, por termos reconquistado a autoconfiança e razoável crescimento econômico, a estrada do sucesso está garantida. Essa crença é falsa, e pode nos levar a relaxar e perder mais um bonde da história.
Sobre as duas chances perdidas, a primeira foi no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando o plano de crescer "50 anos em 5" trouxe a indústria automobilística, a construção de Brasília, a ampliação da malha rodoviária e o sonho de um Brasil gigante. Mas logo no governo seguinte, de Jânio Quadros e João Goulart, o legado de JK apareceu em forma de inflação elevada decorrente da emissão de moeda para pagar a construção de Brasília e outras obras. O sonho morreu e o país continuou pobre.
Em 1964, a inflação de 92% viria a ser debelada pela dupla Roberto Campos (Planejamento) e Otávio Gouveia de Bulhões (Fazenda), com um duríssimo plano de austeridade e de reformas econômicas. Com a inflação controlada, o Brasil rumou para a segunda chance perdida, com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND I, 1972-1974) e o PND II (1975-1979), quando parecia que o Brasil iria ingressar no clube dos países ricos. A inflação ressurgiu em 1979, durou 15 anos, e veio a década perdida dos anos 80. De novo, o país falhou; não deu.
A inflação foi vencida somente em 1994, com o Plano Real, do ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, mas o Brasil seguia pobre e miserável, porém faceiro em sua megalomania de achar-se o "país do futuro". Agora, uma combinação de fatores coloca em nosso colo a terceira chance de sairmos do atraso e construir um país desenvolvido e rico.
Gianetti invoca três pontos para justificar essa nova oportunidade, a última, insiste. O primeiro é o fato de a economia ter se fortalecido, com reservas cambiais nas alturas; o país saiu bem da crise financeira de 2007/2008 nos Estados Unidos e da crise europeia, e há bons indicadores macroeconômicos. O segundo ponto é a emergência de uma nova classe C na última década, com mais renda e 40 milhões de consumidores.
O terceiro é um presente que não se repetirá jamais: o chamado "bônus demográfico". A população brasileira saltou de 52 milhões em 1950 para 161,5 milhões em 1995. Em face da alta taxa de fecundidade, que chegou à média de cinco filhos por mulher, a população multiplicou-se três vezes. Essa multidão de pessoas é, hoje, uma massa imensa com idade entre 15 e 64 anos, idade de trabalhar.
Como o número de filhos por mulher caiu para menos de dois e como ainda não temos uma multidão de idosos (porque a expectativa média de vida era baixa), o país tem uma pequena população de dependentes. Em resumo, a relação entre o número de crianças e idosos e o número de pessoas em idade de trabalhar é pequena, o que permite poupar e investir para dotar o país de infraestrutura e um estoque de capital produtivo capaz de enriquecer a nação.
O desafio é simples: temos duas décadas para usar esse "bônus demográfico" e enriquecer o país. Sem isso, as pessoas entre 15 e 64 anos envelhecerão e terão de ser sustentadas por uma população bem menor (as crianças e os jovens de hoje). Enriquecer antes de envelhecer; ou isso, ou nada de Brasil rico.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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