A mudança de posição dos vereadores durante o caso Derosso e o uso de gabinetes como comitês mostram que vale tudo para conseguir a reeleição
Oportunismo e aproveitamento das estruturas públicas para fazer política andam de mãos dadas o tempo todo, mas essa verdade se revela ainda mais clara nos momentos de campanha. Da mesma forma que alguns partidos e candidatos fazem as mais heterodoxas alianças, outros as desfazem com a mesma presteza. Em ambos os casos, o que interessa é a vantagem imediata que se pode tirar, pautada no mero interesse pessoal e eleitoral nunca pensando no real interesse público ou em convicções de caráter ideológico ou programático.
Dois exemplos marcantes desse tipo de comportamento foram mostrados em edições recentes desta Gazeta do Povo, tendo como cenário a Câmara Municipal de Curitiba. Guardadas algumas peculiariedades, tais exemplos essencialmente não diferem de tantos outros que se reproduzem quer nos Legislativos municipais quer em quaisquer outras esferas. Aqui, como documentamos, vereadores antes aliados ao ex-presidente (cassado) João Cláudio Derosso convenientemente buscam se desvincular de suas más lembranças; ao mesmo tempo, porém, transformam seus gabinetes em comitês eleitorais, nos quais servidores pagos por recursos públicos encarregam-se de distribuir material de campanha.
Em ambos os casos, o que está em jogo é o voto, é ganhar o pleito de qualquer forma, não interessam os meios. Se ao longo de quase 15 anos a maioria dos atuais vereadores rezavam contritos pelo breviário de Derosso, elegendo-o e reelegendo-o sucessivamente para presidir a Câmara pois isso era vantajoso a todos , bastou que o indigitado ex-presidente recebesse a marca de malfeitor para que, apressada e oportunamente, seus antigos aliados dele se afastassem. Interessa-lhes manter na próxima legislatura as cadeiras que ocupam na atual.
Enquanto isso, dá-se o outro vício de usar recursos e estruturas públicas em benefício de carreiras particulares. O instituto da reeleição tanto no Executivo quanto no Legislativo que permite aos titulares atuais não deixarem seus postos para disputar o mesmo cargo oferece largas oportunidades para o uso (às vezes até indisfarçado) da máquina pública que dirigem para buscarem os efeitos eleitorais que desejam. Vereadores (ou deputados, ao tempo dos pleitos próprios) utilizam-se dos servidores que têm à disposição para colocá-los a serviço da própria campanha, como mostrou a Gazeta do Povo na terça-feira, ao revelar que quatro vereadores curitibanos usavam seus gabinetes para distribuição de material de campanha.
São funcionários comissionados que se prestam a esse serviço, pois também eles dependem da reeleição de seus respectivos chefes para manter os próprios cargos, como ocorre, por exemplo, no âmbito da Assembleia Legislativa: "agentes políticos", como são chamados os comissionados dos gabinetes parlamentares que, ainda que a quilômetros de distância da sede, "assessoram" os deputados. Na verdade, são seus cabos eleitorais, pagos às expensas dos generosos orçamentos públicos.
São situações como as descritas que contribuem fortemente para que a prática política no país mantenha-se ao nível dos rodapés, incapaz de atrair valores novos e mais bem-intencionados que a maioria daqueles que hoje pedem nossos votos.