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Inúmeras acontecimentos vêm se conjugando nas últimas semanas para fazer crescer na opinião pública a percepção de que já está quase no ponto ideal a temperatura do forno onde se assará a enorme pizza das CPIs que rolam no Congresso para investigar as maracutaias federais. O episódio do mensalinho que levou Severino Cavalcanti à renúncia, a eleição do deputado governista Aldo Rebelo para sucedê-lo na presidência da Câmara, a paralisia em que se prostrou a CPI dos Correios, a falta de resultados conclusivos das demais CPIs (do Mensalão e dos Bingos), a descoordenação entre o Conselho de Ética e a Corregedoria da Câmara, a eleição da nova direção do PT, o troca-troca partidário – toda essa sucessão de fatos contribuiu para fazer aumentar a sensação de que o desgastante processo de denúncias iniciado há quatro meses termine sem a limpeza ética que a sociedade esperava.

Não faltam indícios fortes, e muitas provas já foram levantadas. Mas faltam ainda elementos suficientes e consistentes para configurar a exata dimensão do mais hediondo esquema de corrupção que a história brasileira já conheceu. Salvo o caso exemplar de cassação do deputado Roberto Jefferson – o homem que fez explodir o caldeirão de denúncias –, poucos dos envolvidos foram responsabilizados politicamente e nenhum criminalmente.

Não faltam evidências de que montanhas de dinheiro público irrigaram caixa 2 de campanhas eleitorais e encheram bolsos de parlamentares. Mas não há ainda conclusões cabais e definitivas que confirmem todas a suspeitas que pesam sobre a enorme lista de operadores das irregularidades que vieram à tona. Até hoje não se desvendou por completo a ilicitude dos empréstimos bancários de Marcos Valério, pouco se concluiu sobre as triangulações para lavagem de dinheiro, quase nada se sabe sobre contas bancárias em paraísos fiscais, sobre irregularidades em contratos de publicidade e em processos milionários de licitação... E infinitamente menos ainda se sabe a respeito da origem real da cornucópia – fruto do trabalho suado de cada brasileiro que paga imposto – que correu nisso tudo.

Enquanto isso, os interessados em jogar a sujeira para debaixo do tapete vêm acumulando algumas vitórias. A CPI dos Correios, por exemplo, sequer tem conseguido quórum para votar requerimentos. Depoimentos tornaram-se espetáculos de cinismo: um lado mente sob proteção de habeas-corpus, outro apenas se esforça para aparecer na tevê. A eleição do manso deputado Aldo Rebelo é festejada sem pudor pelos ameaçados de cassação. Processos já concluídos dormem nas gavetas da chicana. O tempo corre e nada anda. Por sua vez, o presidente Lula aproveita a ocasião para alimentar o clima favorável de que nada ou quase nada vai acontecer ao recomendar cautela à população porque o "denuncismo está solto" – "as denúncias aparecem e não se concretizam", afirmou.

A sociedade brasileira não pode se prostrar em posição de conformismo diante deste quadro sob pena de ter de engolir a pizza com sabor de impunidade geral que estão querendo lhe servir.

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