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A propaganda oficial tentou há pouco tempo massagear o ego do brasileiro, fortalecendo a sua auto-estima. Um dos lemas foi "O melhor do Brasil é o brasileiro". As técnicas utilizadas na campanha são modernas e a mídia investigativa tem demonstrado que os recursos alocados a essa finalidade cresceram progressivamente no governo federal.

Há limites para a construção das imagens que a propaganda procura impingir. A realidade, quando negativa, impõe-se dura e resistente, a impedir se sustente o produto elaborado pela criatividade dos gênios do marketing.

Os escândalos divulgados pelos jornais e pela televisão, em tempo real, nos depoimentos realizados nas CPIs, provocaram perplexidade no povo, que se agrava, na medida em que, como avalanche, a cada dia se agregam novos atentados à coisa pública, à moralidade e a ética na condução do governo e na construção de sua base parlamentar.

A imensa maioria dos nossos cidadãos enfrenta sérias dificuldades na luta pela sobrevivência. O salário que recebe não consegue cobrir todos os seus compromissos ao longo do mês. A disponibilidade se esgota rapidamente. É uma vida cada vez mais apertada, dependurada em empréstimos e crediários, quando se consegue obtê-los.

A eleição do presidente Lula, em 2002, apoiada por quase 53 milhões de brasileiros, constituiu a consolidação da esperança de que tempos melhores viriam para todos e de que haveria significativa mudança nos rumos da Pátria.

Nada disso ocorreu. Aprofundou-se a submissão do Brasil aos organismos internacionais, representativos dos interesses do capital estrangeiro; não há prevalência do interesse nacional sobre a invasão das multinacionais, a transformar o nosso território em quintal de suas operações espoliativas; não há projeto governamental de desenvolvimento; os juros elevados fixados pelo Banco Central travam os investimentos e cerceiam o consumo, condenando o país à pasmaceira econômica; a reforma agrária vegeta na falta de recursos governamentais, havendo vastas extensões territoriais a desbravar e milhares de trabalhadores rurais a se ocupar proporcionando-lhes terra para lavrar; o petróleo nosso, garantido pela Petrobrás, vai sendo entregue às multinacionais; o povo consumidor de bens e serviços está sendo extorquido pelos impostos e contribuições, em carga tributária brutal, sem retorno de serviços públicos sequer razoáveis. Essa, a situação que, se mudou, foi para pior.

O governo Lula anêmico, desfibrado, caindo pelas tabelas da crise política necessita se vitaminar, ganhar fibra, vigor e consistência.

Há uma oportunidade para isso. A data é a de 18 de setembro, em que vão ocorrer as eleições diretas no âmbito do PT. São 800 mil militantes credenciados a votar. Poderão dar um choque de realidade no governo Lula, elegendo a oposição, a demonstrar a insatisfação com os escândalos partidários internos e a condução imprimida pelo governo Lula.

Um novo partido pode ressurgir, pela ação de cinqüenta anos de militância política de Plínio de Arruda Sampaio. Socialista, curtido pelo exílio, defensor da reforma agrária, pela preservação das nossas empresas, aliado do trabalho e de uma política econômica nacionalista, constitui a possibilidade renovada de mudança pela restauração dos ideais, que o PT sempre defendeu e deverá em renovação afirmar. Plínio é a esperança da salvação do governo Lula, condenado a figurar na história como carcomido, se tudo continuar como está.

Osíris de Azevedo Lopes Filho, advogado, é professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário da Receita Federal.

osirisfilho@azevedolopes.adv.br

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