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Bruno Garschagen

Como construir um Brasil melhor se nos sentimos a escória do mundo?

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(Foto: Reprodução)

Como bons filhos de Portugal, acreditamos piamente que somos os piores do mundo em todos as áreas, dimensões e quesitos. Diante de uma notícia negativa qualquer acerca de outro país, puxamos imediatamente pela memória uma lembrança que ratifique a nossa inferioridade cultural, econômica ou política. O brasileiro é, antes de tudo, um reacionário negativista.

Traço curioso este o da nossa cultura, um senso comum que nos rebaixa. Alçamos os nossos vícios, aquilo que temos de pior, a um padrão geral de conduta, a uma regra desviada que fundamenta a nossa mentalidade, psicologia e, portanto, os nossos hábitos. Desgraçadamente, celebramos tal conjunto desonroso no âmbito doméstico e internacional. Se um estrangeiro pergunta se o Brasil é o país do samba, do futebol, da desigualdade social e da corrupção, estufamos o peito e soltamos o brado retumbante: “sim, só que pior”.

Antes de tudo, ignoramos, repudiamos ou ridicularizamos a nossa história

Tal reação é o contrário da cultura de países que muitos de nós admiram. Mas se há algo a ser reverenciado em nações como a Inglaterra ou os Estados Unidos, por exemplo, é a conversão das virtudes e da benéfica herança histórica em senso comum, num padrão a ser valorizado e respeitado pela sociedade como influência positiva. E assim também o fazem internacionalmente ao orgulhosamente projetar e ratificar seus atributos como elementos fundamentais da identidade nacional.

Eis o teste: quando você pensa num inglês, a imagem que lhe vem à cabeça é a de um lorde ou a de um trabalhador braçal bebendo num pub? E quando pensa num brasileiro, qual a caricatura que vem à cabeça? E, mais importante, você se inclui nessa imagem negativa ou o brasileiro, como o inferno para Sartre, é sempre o outro?

Mesmo um inglês não está infenso a cometer sandices em autoavaliações históricas. Uma parcela dos membros da The Historical Writers’ Association, que reúne os autores de livros de ficção e de não ficção na área de história, votou em Margaret Thatcher – a estadista cujo governo salvou o país na década de 1980 – como a pior primeira-ministra britânica dos últimos 100 anos. David Cameron ficou em segundo lugar e Neville Chamberlain, em terceiro. Nigel Jones, no jornal Telegraph, definiu bem a coisa: não é por acaso os três piores primeiros-ministros escolhidos serem tories (conservadores), pois a associação é formada por muitos historiadores esquerdistas que, com essa pesquisa, macularam a profissão.

Como se vê, nós, brasileiros, não temos o monopólio da parvoíce. Mas incorremos em equívocos tão graves quanto. Porque, antes de tudo, ignoramos, repudiamos ou ridicularizamos a nossa história. No caso da política, o Brasil parece ter nascido em 1889. Se for realizada uma pesquisa sobre os grandes vultos históricos, certamente a lista será reduzida para nomes a partir do golpe republicano. Pergunte a qualquer pessoa quem foi, por exemplo, Bernardo Pereira de Vasconcelos. Não saberá. E Vasconcelos, por seu talento e inteligência, talvez tenha sido o político mais importante e influente do período monárquico. Mas, hoje em dia, a personalidade histórica célebre é o autoritário Getúlio Vargas.

O orgulho que nutrimos por nossos infortúnios nos afeta e nos paralisa. Se somos inferiores, se nada no Brasil é bom e virtuoso, por que empreender esforços para melhorar? Como sermos dignos se nos consideramos a escória do mundo? Essa atitude perante os outros e diante da vida conforta quem nada pretende fazer e rebaixa quem pretende ou tenta fazer alguma coisa. E aqueles que tentam são, de alguma maneira, prejudicados por quem prefere não tentar.

Se a ausência de vontade e a aceitação passiva e fatalista do que é medíocre passam a ser o senso comum, a nossa cultura refletirá os distintos graus de mediocridade. Tal ambiente desestimula a superação das adversidades e premia a banalidade. Com o tempo, nem sequer temos capacidade de reconhecer o melhor do pior, o bom do ruim, o Bem do Mal.

Sendo assim, o que fazer? Excetuando o milagre, resta darmos o melhor de nós mesmos e exigirmos o melhor dos outros. É árduo, doloroso, incerto e desconfortável. Porém, antes de pensar num Brasil melhor, devemos ser melhores.

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