A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie tem um propósito de vida: educar as crianças para o feminismo. Sua justificativa deve ser analisada com atenção: romper com o preconceito e a misoginia. Seu alvo pedagógico? As novas gerações. Ou seja, seus filhos, meus filhos, nossos filhos.
No livro Sejamos todos feministas , Chimamanda afirma que “o modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita”. Por isso mesmo, segundo ela, “abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausurando-os numa jaula pequena e resistente”.
Qual seria o resultado dessa criação? Um “mundo sexista” onde “a misoginia é praticada tanto por homens quanto por mulheres”, disse a escritora numa entrevista para a Folha de S.Paulo .
É inaceitável que qualquer tipo de opressão contra o sexo feminino ainda seja um hábito de uma parcela da população masculina
Embora o discurso de Chimamanda seja pautado pela realidade de seu país, há muitas semelhanças entre os vários graus de violência sofridos por mulheres em várias partes do mundo, de abusos morais a físicos. Há em todo o mundo elementos do sexo masculino que nem deveriam ser qualificados como homens, como seres humanos, pela forma como veem e tratam as mulheres. É, portanto, inaceitável que qualquer tipo de opressão contra o sexo feminino ainda seja um hábito de uma parcela da população masculina. Gente que age dessa maneira deve ser exposta e punida, punição social e legal.
O grande engano da escritora é propor uma solução errada para um problema profundo e dramático. Ao assumir a missão de solucioná-lo a partir de um equívoco, o feminismo, a escritora nigeriana baseia-se numa política de fé, que Michael Oakeshott definiu como a certeza de que para todo e qualquer problema haverá uma única solução racional e que esta será a melhor. As experiências autoritárias do século 20 estão aí para provar que esse não é o melhor caminho.
Como Chimamanda pretende cumprir o seu intento? Pela destruição de alguns alicerces que compõem a sociedade, tais como a maternidade (“não seja definida apenas pela maternidade”), a autoridade dos pais (“nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ‘porque você é menina’”), o casamento (“o matrimônio não é uma realização”), a responsabilidade perante os outros (“ensine a não se preocupar em agradar”). Ao ler esses trechos do seu novo livro Para Educar Crianças Feministas, lembrei-me de pronto da frase de Roger Scruton em Como ser um conservador, que traduzi: “o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante”.
Se há um projeto para educar as crianças para o feminismo, missão esta que não se restringe ao trabalho da escritora nigeriana, mais do que nunca os pais devem assumir a responsabilidade que têm de educar os seus filhos. Para que essa educação crie os anticorpos morais, éticos e intelectuais necessários a qualquer tentativa de engenharia social promovida por intelectuais, escritores, militantes que se disfarçam de professores e professores que nem sabem que estão a serviço de uma ideologia. Não há nada mais poderoso contra projetos sociais autoritários do que a educação em casa promovida por pais que buscam a verdade, conhecem o inimigo e as formas de combatê-lo. Desgraçadamente, muitos pais terceirizaram essa responsabilidade (à babá, a familiares próximos, a professores, a burocratas do Estado). Não acompanham a vida escolar do filho e depois não entendem como ele se tornou um revolucionário analfabeto funcional.
O conselho de Chimamanda para os pais é que ensinem os filhos “o gosto pelos livros”, preferência que os ajudará “a entender e a questionar o mundo”. Se, no futuro, a filha da escritora nigeriana seguir seriamente a orientação da mãe, será que se tornará esse tipo de feminista? Caso contrário, como ela reagiria?
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