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História e tradição do Conservadorismo brasileiro (3)

Os Conservadores brasileiros do século 19 conseguiram desenvolver uma práxis política realista e objetiva porque “viviam a realidade concreta do país em que estavam”, conforme observou o historiador João Camilo de Oliveira Torres em Os Construtores do Império – Ideais e lutas do Partido Conservador Brasileiro, livro que ganhará este ano uma nova edição pela Editora Resistência Cultural. O cientista político Christian Lynch explicou essa vivência política como uma “espécie de epistemologia” dos Saquaremas, que “antes de procurar alterar a realidade e promover reformas institucionais”, buscavam “conhecer a realidade nacional, olhar para o país e fazer as adaptações do que se deseja importar” em termos de ideias e práticas estrangeiras.

Esse vínculo profundo com o país e com a sua realidade social e cultural, uma singularidade do Conservadorismo, protegiam os Saquaremas das tentações revolucionárias e dos projetos políticos utópicos. Isto nos permite compreender a posição do Visconde de Uruguai ao afirmar que os Conservadores não procuram “o melhor em abstrato, teoricamente e no papel, mas o que é relativamente possível e atualmente aplicável”. Era função dos Saquaremas, portanto, “remover os inconvenientes que é possível arredar, resignar-nos aos inevitáveis, ou procurar atenuá-los, e esperar do tempo, do desenvolvimento do espírito público, e do senso prático da população aquele maior grau de melhoramento que podem atingir as sociedades humanas”.

Bernardo Pereira de Vasconcelos, liberal que tornou-se um dos maiores e mais influentes políticos Conservadores do Império, ratificou tal concepção quando declarou no Senado que os Saquaremas não eram “os homens das teorias, os homens dos sistemas, os homens das utopias; somos os homens da prática, do positivo, os amigos das realidades. Nossos adversários seguem opinião contrária [...]. Olham para o futuro como isolado, como independente do passado, e é daí que vem a nossa divergência. Os nossos adversários adotam as suas regras, estabelecem a sua linha reta em finanças, são inexoráveis amigos dos princípios absolutos; nós queremos todo o progresso, mas progresso muito regulado, queremos andar para adiante para assegurar a vida presente, a vida real”.

Advém dessa posição política a constatação de João Camilo segundo a qual “o traço mais característico da psicologia conservadora” é não considerar “viáveis as transformações e mudanças feitas sem o sentido da continuidade histórica — mais: o conservador acha impraticáveis e condenadas ao suicídio todas as reformas fundadas unicamente na vontade humana, sem respeito às condições preexistentes”. A reforma é, portanto, fruto de “um processo de cautelosa adaptação do existente às novas condições”.

Por isso, os Saquaremas tinham como fundamento da ação política adaptar “o antigo ao novo, sem destruir o antigo, nem negar o novo”, para dessa forma resolver as “questões concretas de maneira específica”. A cautela prudencial não significava medo da mudança, mas a tentativa de minimizar os inconvenientes e as consequências não-intencionais das alterações e de preservar seus elementos benéficos. A rejeição às “reformas fundadas unicamente na vontade humana” era, nesse sentido, uma reação às utopias revolucionárias que pretendessem submeter a realidade a uma determinada ideologia.

O Conservador brasileiro, por outro lado, segundo João Camilo, “não aprecia revisões completas dos sistemas e sabe que, na vida como na política, não é fácil ver todos os lados de uma questão e que as soluções de compromisso costumam dar mais certo”. Em virtude disso, os Saquaremas, que viviam num ambiente de liberdade ordeira completamente distinto do atual, buscavam “fórmulas de compromisso, plásticas e vivas, capazes de conduzir a resultados mais positivos, capazes de ir mais longe, pelo fato de irem mais lentamente”.

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