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Bruno Garschagen

O que vi e vivi nos dias de terror no Espírito Santo

 | Tânia Rêgo/Agência Brasil
(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Escrevo este artigo sob o impacto dos dias de terror e violência aqui no Espírito Santo, onde resido. A sensação de impotência é excruciante. O que fazer quando a polícia cruza os braços e você se encontra desarmado diante de bandidos armados? Foi igualmente perturbador testemunhar os policiais militares assistindo a tudo de camarote e saber que o contingente do Exército no Espírito Santo estava impedido por lei de, imediatamente, restabelecer a lei e a ordem. Nunca apelei tanto ao Pai-Nosso e à Ave-Maria.

Três dias foi o intervalo entre o pedido do governador do Espírito Santo, a determinação do presidente da República, a ordem do ministro da Defesa e a atuação das Forças Armadas. Três dias de terror que assustaram até um iraquiano que é comerciante em Vitória e disse que pensa em voltar para o seu país. Bagdá, para ele, está mais segura que aqui.

Não tenho dúvida de que as consequências da paralisação da PM só não foram mais graves porque a Guarda Municipal (GM) de cidades como Vila Velha e Cachoeiro de Itapemirim agiu corajosamente e porque parte da sociedade reagiu, com arma e sem arma. Dias atrás, um carro da GM escoltado por dois guardas a pé passou devagar pela rua onde moro. Do sistema de som do carro, um deles tentava tranquilizar os moradores, que aplaudiram e assoviaram num misto de apoio e alívio. Mesmo com pequena estrutura e falta de treinamento específico para lidar em situações como essa, os guardas municipais foram valiosos num momento crítico.

A sensação de impotência é excruciante

No caso da reação civil, fui testemunha e confirmei muitas histórias que ouvi, ocorridas em várias cidades capixabas, de pessoas que reagiram e botaram bandidos para correr ou que conseguiram imobilizá-los. Houve casos de moradores que, durante a reação, exageraram no cavalheirismo e provocaram algumas escoriações mais ou menos graves nos criminosos.

A reação de parte da sociedade capixaba só aconteceu, creio, porque, graças ao bom Deus, a mentalidade desarmamentista não resultou plenamente aqui no estado. Muita gente ainda tem arma de fogo em casa. E mesmo aqueles que não a têm manifestaram uma coragem admirável.

Foi bonito ver as pessoas se organizarem para fazer patrulha nas ruas, em casas, em condomínios, no comércio, com o fito de protegerem-se uns aos outros. A mentalidade que fundamenta o Estatuto do Desarmamento não foi capaz de fragilizar uma sociedade à mercê dos bandidos e de pessoas que aderiram aos saques criminosos nas lojas. Indivíduos que assim confirmaram a observação do Conselheiro Aires em Esaú e Jacó, de Machado de Assis: “não é a ocasião que faz o ladrão; A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”.

Sim, a maioria dos capixabas está desarmada e ficou completamente desamparada. São pessoas que, decerto, acreditaram na ilusão vendida pelos defensores do Estatuto do Desarmamento. E que descobriram de maneira dramática que, na ausência da PM, a bandidagem faz a festa porque sabe que não há gente armada em número suficiente para ajudar todo mundo que precisou (e precisa) de ajuda. Que o diga quem mora nas periferias.

O que aconteceu no Espírito Santo abre uma janela de oportunidade fabulosa para discutirmos três temas fundamentais para a segurança da sociedade: a valorização efetiva da Polícia Militar, o que evitaria paralisações como essa; a necessidade de se ter uma nova Guarda Municipal preparada para agir prontamente em casos de necessidade; e a facilitação do registro, do porte e da compra de arma para o cidadão que deseja tê-la como instrumento de proteção.

Se escrevo este artigo sem saber se, neste momento em que você me lê, a paralisação continuou ou já terminou, duas coisas para mim são evidentes: a relação do capixaba com a PM não será a mesma e cada vez mais pessoas terão arma em casa. O Estatuto do Desarmamento falhou miseravelmente em mais um grande teste: o da realidade da vida cotidiana no Brasil.

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