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Bruno Garschagen

O socialismo e o doutor Simão Bacamarte

 | Roberto Custódio/Arquivo Jornal de Londrina
(Foto: Roberto Custódio/Arquivo Jornal de Londrina)

No conto O Alienista, o médico Simão Bacamarte interna no manicômio a maioria dos cidadãos de Itaguaí diante da crença de que todos haviam enlouquecido. Os socialistas e comunistas brasileiros parecem querer internar a sociedade brasileira em seu manicômio ideológico por achar que todos nós, se não enlouquecemos (ainda), não estamos a ver o mundo como eles querem que vejamos.

O Doutor Bacamarte, é verdade, depois manda soltar todo mundo – não porque recuperou a lucidez, mas ao concluir que o louco era ele, pelo que decidiu internar-se para todo o sempre.

Em maio, o socialista Carlos Alberto Libânio Christo, que sob a alcunha Frei Betto ajudou a fundar o PT e foi ex-ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, deu uma de Simão Bacamarte ao afirmar que a “esquerda jamais esteve no governo e a direita nunca deixou o poder”.

Em cada mente socialista reside um Porfírio, o barbeiro, e um alienista

Em outubro, foi a vez do socialista José de Souza Martins, professor titular aposentado da USP, ao dizer que o PT é “a direita hoje, porque se” tornou “o partido do poder, não o partido de uma causa, da superação dos problemas políticos e sociais do país”.

O fundamento ideológico da acusação de ambos é explicada pelo próprio José de Souza Martins ao dizer que “o PT bota carimbo de direita em todo mundo. Eles nem sabem o que é direita”. O sociólogo socialista, este pleonasmo vicioso, é traído, porém, por sua própria tese quando afirma que no Brasil não existe partido de esquerda.

Acusar alguém de ser de direita ou fascista não é designar alguém por aquilo que pensa, defende ou representa. Trata-se de um pernicioso estratagema de retórica política que, ao deturpar o seu uso, imprime uma insultuosa carga simbólica. A repetição acaba por atribuir uma aparência de legitimidade a algo que inexiste porque quem acusa ignora o conceito e todos aqueles que reproduzem a sandice operam como meras correias de transmissão. Eis que a soma de nada com coisa alguma ganha a arena pública sob o nome de “debate”.

Mas não é só o PT que “bota carimbo de direita em todo mundo”. Todos os socialistas e comunistas o fazem por estratégia, mesmo aqueles disfarçados sob a inexata designação de membros da “esquerda”. A intensidade da denúncia varia de acordo com a sensação de perda de espaços conquistados e de poder político formal e informal. A gritaria, portanto, é o reconhecimento de que a vaca socialista está indo para o brejo (sem ofensa às vacas). E, quando as lamúrias começam a ser identificadas como sinais de desespero, socialistas e comunistas sacam do bolso insinceras afirmações que dão conta da “necessidade de autocrítica”. Autocrítica significa “como e quando vamos tomar o poder novamente”.

Embora erre no diagnóstico e no prognóstico, o fato é que José de Souza Martins acertou em uma única coisa: os petistas “não sabem o que é direita”. Arrisco-me a dizer que nem ele, nem a maioria dos socialistas e comunistas brasileiros. E assim a direita – uma palavra inadequada para conceituar e abranger distintas matrizes do pensamento político – é reduzida a um vitupério contra qualquer expressão política que não seja de esquerda. Conservadores, reacionários e liberais são, assim, colocados no mesmo balaio de gatos, apesar de não se misturarem, como a água e o óleo.

Por que os intelectuais, a intelligentsia e a burritsia esquerdista agem assim? Porque em cada mente socialista reside um Porfírio, o barbeiro, e um alienista.

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