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Bruno Meirinho

A população em situação de rua ficará desabrigada?

 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
(Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

O prefeito Rafael Greca anunciou nesta terça-feira o fechamento de um guarda-volumes construído na gestão de Gustavo Fruet, na Praça Osório, para o atendimento da população em situação de rua.

A criação de guarda-volumes é uma medida importante para atender a essa população tão carente. Isso porque sem um equipamento público dessa natureza essas pessoas são obrigadas a depositar seus pertences pessoais em locais inadequados, como caixas de inspeção de abastecimento de água, e ficam suscetíveis a ações arbitrárias de recolhimento de seus objetos.

Por isso, a iniciativa de criação de equipamentos dessa natureza se soma a outras ideias que buscam assegurar condições básicas de humanidade a essa população. A reação contra essas iniciativas mostra que elas têm sido efetivas em pelo menos um dos seus objetivos: o resgate da visibilidade dessa população.

A sociedade já não se espanta mais com o fato de que existem pessoas que simplesmente vivem nas ruas

Esgotada dessa realidade, a sociedade já não se espanta mais com o fato de que existem pessoas que simplesmente vivem nas ruas. O aumento do sofrimento psíquico que afeta todo o mundo e a crise econômica contribuem para o aumento do número de pessoas vivendo no limite de sua subsistência, e naturalizam-se suas causas: crack, alcoolismo, desestruturação familiar, desemprego.

Junto com a naturalização das causas, vem a isenção de responsabilidade da sociedade com o problema. Apenas deseja-se que uma situação desse tipo nunca existisse. E assim a população em situação de rua torna-se invisível. Mas, quando são criadas políticas públicas para atendê-la, a sociedade se vê obrigada a coexistir com essa realidade.

A complexidade desse problema nos desafia. Acredito que para além do atendimento às condições materiais básicas de sobrevivência, tais como o abrigo, o alimento e a guarda de bens pessoais, as políticas públicas para a população em situação de rua deveriam buscar os elementos imateriais da humanidade dessas pessoas, resgatando sua existência mental para além da sua sobrevivência corpórea. A ideia é antiga – mente sã, corpo são –, mas tem sido esquecida. O resgate da população em situação de rua precisa ser integral para que possa ser efetivo. Se a ação social tem toda essa dimensão, e demonstra precisar de mais, como poderá avançar com menos?

Por isso é preocupante o fechamento do equipamento de guarda-volumes. A prefeitura esclarece que um equipamento similar continuará funcionando no Centro da cidade, em outro endereço. O serviço seria mantido; o que mudaria seria a visibilidade?

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