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bruno meirinho

Pelo meu avô, meu pai, minha mãe e meus filhos, eu voto...

Sim. Virou piada a “motivação” de vários votos de deputados federais, em geral favoráveis ao impeachment da Dilma, na sessão da Câmara realizada no último domingo. Ao lado dos votos daqueles que acusaram Dilma de ter mudado a cor da bandeira e aqueles que votaram ainda inspirados pela “revolução” de 64, houve um grande número de deputados que fundamentaram o voto nas suas próprias famílias.

Diante de uma elite política empobrecida que, no microfone, manifestou todo o seu repertório de cumprimentos ao estilo do clássico Xou da Xuxa, a audiência que acompanhou a sessão da Câmara foi torturada durante mais de cinco horas de votação, enquanto mais de uma centena de deputados começava seus discursos entoando o mantra de Deus e da família.

Na república, o público e o privado não devem se misturar

Dedicar o voto à família não é apenas um argumento precário, daqueles que se ouve de jogadores de futebol. É simplesmente errado, em uma república, defender o voto com fundamento na sua própria família. Na república, o público e o privado não devem se misturar. Um bom republicano poderia dizer, sem contradição, que enfrentaria sua própria família em defesa do interesse da coletividade, embora não necessariamente a boa república seja formada por pessoas que rompem seus laços familiares.

Em resumo, deve-se evitar a confusão entre família e política. Para a tomada de decisões, deve haver motivos verdadeiramente públicos e republicanos.

A verdade é que a motivação oficial do impedimento passou longe das fundamentações dos deputados partidários do “sim”. No papel, Dilma está sofrendo impeachment por motivos que, inclusive, atingiriam o vice-presidente Michel Temer e mais de uma dezena de governadores de estado. Por que só ela mereceria o impedimento?

É a defesa da família partidária.

Aliás, um “acordo de líderes partidários” (uma espécie de família dentro da Câmara) está bloqueando a abertura de processo de impeachment – determinada pelo Supremo Tribunal Federal – contra Michel Temer, acusado da mesma conduta praticada por Dilma. Algumas lideranças partidárias simplesmente se recusam a indicar deputados para compor a comissão que pode encaminhar a deposição do vice-presidente. Se caíssem os dois, presidente e vice, teria de haver novas eleições.

Enquanto isso, medidas de desajuste fiscal que prejudicam a garantia de recursos para a saúde e para a educação têm sido defendidas por esses mesmos parlamentares. Os mais graves crimes de responsabilidade já estão sendo premeditados, na “ponte para o futuro” que, a rigor, prejudicará as famílias mais pobres em detrimento das famílias mais ricas.

Mas estamos falando da Câmara na qual metade dos parlamentares é oriunda de famílias estabelecidas na política, como apontou a ONG Transparência Brasil. Assim, em muitos casos, defender a família é defender muito mais que pais e filhos: é defender oligarquias. Eis as famílias de que eles estavam falando.

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