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RIO DE JANEIRO – As sucessivas crises que a classe política atravessa, seja no Legislativo, no Executivo e até mesmo no Judiciário, colocam uma velha questão em debate: o poder, qualquer tipo de poder, é corrupto por natureza? Ou com outras palavras: o poder corrompe?

Já foi dito e reedito que sim, o poder corrompe e, em seu grau absoluto, corrompe absolutamente. Daí não se deve nem se pode concluir que o ocupante eventual do poder seja, em si, um corrupto. Pode até ser um anjo imaculado, mas o exercício do poder fatalmente o obrigará a transpor os limites da ética e a violentar muitas vezes a sua própria visão do mundo e de si mesmo.

Foi mais ou menos o que Fernando Gabeira disse há pouco, com outras palavras, reconhecendo honestamente uma falta menor, atribuindo ao ocupante de um cargo público em qualquer esfera a sensação de que tudo lhe é permitido.

Metaforicamente, o poder é uma caneta. Ela assina ou deixa de assinar tudo o que expressa o próprio poder. A alternativa, ainda no plano metafórico, é a bala. Juntas, caneta e bala formam a tirania. Ou seja, o poder em sua forma absoluta.

Acho que ainda estamos na fase da caneta, embora já te­nhamos passado pelo regime da bala.

Leitor atento e exigente, cujo nome agora não me ocorre, corrigiu o cronista, que, em texto recente, confundiu as bolas bíblicas de Noé e Lot. O leitor insiste numa retratação, e gostosamente dou-a. Noé é um cara, Lot, outro. O primeiro foi salvo do dilúvio com sua arca ecológica, e o segundo livrou-se da destruição de Sodoma e Gomorra, menos sua mulher, que olhou para trás e foi transformada em estátua de sal. Corrijo o meu erro antes de também me transformar numa estátua de sal.

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