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Fala-se tanto no terceiro mandato, uns contra, outros a favor, que, a partir de algum tempo, todos pensaremos que foi aprovada a prorrogação do atual governo, que Lula foi eleito mais uma vez e que já iniciou os trabalhos para descolar o quarto mandato

Rio de Janeiro – Já lembrei dois episódios sobre as conseqüências de se falar muito sobre determinada coisa. O primeiro é trecho do "Tartarin de Tarrascon", romance de Alphonse Daudet. Tartarin ameaçava ir caçar leões na África, comprou equipamento especial, armas, tenda de campanha, mapas, marcou várias datas para a partida.

Depois de certo tempo, os habitantes de Tarrascon admitiram que ele já havia partido e voltado em glória. Foi eleito presidente perpétuo do Clube dos Caçadores e todas as noites reunia amigos para contar suas façanhas em terras africanas.

O outro episódio foi no circo El Asombro de Damasco, que, apesar do nome internacional, estava armado havia anos em Barra do Piraí. O dono do circo prometeu que importaria leões da Núbia, os mais ferozes do mundo, marcava data para a estréia dos leões, até que o povo, depois de certo tempo, pensou que os leões já tinham vindo, um deles comera o domador durante um espetáculo em homenagem ao Dia do Ferroviário.

Nem Tartarin foi à África nem leão algum pisou a serragem encardida do El Asombro de Damasco. Não importava. A voz do povo era a voz de Deus e da história.

Lembro os dois episódios a propósito do terceiro mandato de Lula. Fala-se tanto nessa hipótese, uns contra, outros a favor, que, a partir de algum tempo, todos pensaremos que foi aprovada a prorrogação do atual governo, Lula foi eleito mais uma vez e já iniciou os trabalhos para descolar o quarto mandato.

É a chamada força do hábito. Sabemos que os principais cargos do próximo governo já estão comprometidos, as metas estabelecidas, sendo a principal delas justamente o quarto mandato. O próprio Lula será o primeiro a acreditar que foi mais uma vez eleito e que nunca neste país houve um governante como ele.

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