No recente encontro de Lula com Bento XVI, no Vaticano, o presidente brasileiro sugeriu que o Papa, em suas mensagens públicas, fizesse algum comentário referente à crise econômica e financeira que o mundo atravessa. Ignoro o que Bento XVI respondeu. É possível que tenha agradecido a sugestão, dado o caráter cordial e protocolar da visita.

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Até certo ponto, o conselho não deixa de ser ocioso. A Igreja Católica romana tem uma tradição formada há séculos, explicitada sobretudo nas encíclicas "Rerum novarum" (1891) e "Populorum progressio" (1967). Para ser claro: sua estrutura temporal sempre foi capitalista, em alguns momentos chegou a ser imperialista, desde que, de certa forma, substituiu o Império Romano na esfera ocidental.

Mas, em seu conteúdo pastoral, sua mensagem foi bem sintetizada por João Paulo II, que, no início de seu pontificado, em Puebla, disse que "o capital tem uma hipoteca social". Está dito tudo neste simples enunciado. O Papa não condenou o capitalismo em si, mas lembrou que o capital existe, se forma e sobrevive à custa da sociedade que trabalha e nem sempre é recompensada pelos lucros que gera.

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Não se trata de pregar a caridade, o assistencialismo que muitas vezes integra o programa dos governantes. A idéia da hipoteca social é um preço proporcional que o capital tem de pagar ao trabalho, como um dos fatores do próprio capital, sendo mesmo o principal elemento da concentração da riqueza em mãos do Estado ou das empresas.

A crise que agora preocupa o mundo é a manifestação do capital mal-organizado e mal-operado. Erguido à categoria de arco e flecha do desenvolvimento humano, é um ídolo sem consistência desde que não pague a hipoteca que deu início a seu processo dentro da sociedade.