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Eu a encontrei numa reunião social. Era fácil sa­­ber quem era, todos a co­­nheciam, uma profissional bem-sucedida, por todos ad­­mirada. De repente, reparei nos olhos dela e vi que eram feitos de água, uma água misteriosa, que parecia lágrima. Tive a impressão de que a moça não era feita de carne, mas de pranto que ela reprimia dentro de si.

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A impressão passou. Outras pessoas se aproximaram, a moça voltou a ser o que todos pensavam que ela era, uma deusa, to­­dos a devoravam, e ela parecia estar à vontade, fazia o jogo, ria e se divertia como todos. Mas guardei aquela impressão: a da lágrima que ela trazia, seca, nos olhos imensamente verdes.

Mais tarde, a conheci numa viagem. Tomei coragem e disse-lhe de minha primeira impressão, que ela parecia estar sempre na véspera do pranto, que as lágrimas ficavam imóveis, congeladas em seus olhos, não fa­­ziam o roteiro habitual das lágrimas, não desciam pelo rosto, ficavam estanques, dando brilho nos olhos que já brilhavam de tanto verde.

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Ela me olhou surpreendida. ‘Mas como? Você me acha infeliz? Tenho tudo na vida!’. Então eu disse: ‘Sei que você é feliz, uma deusa, mas talvez seja uma deusa com vontade de chorar um choro escondido’.

A moça abriu a bolsa e me mostrou pela metade a foto de um menino. Era seu filho. Filho de uma deusa. Era um menino bonito, tinha mais ou menos o mesmo olhar da mãe, só que não eram líquidos, como uma lágrima. Quis ver a foto inteira. Ela hesitou, pensou em me mostrar a foto, mas guardou-a na bolsa, num gesto quase involuntário. Com um sorriso triste sem tristeza, mas conformado, me explicou: ‘Ele nasceu sem as mãos. Tem 8 anos, é lindo, e o primeiro na escola. Mas não tem as mãos. E eu não nunca mais tive vontade de chorar’.