Rio de Janeiro – Há muito perdi o contato com um grupo de feministas que, nos anos 80, pregava a abstinência sexual das mulheres com um argumento irrefutável: "Como ter orgasmo enquanto Pinochet preside uma ditadura sangrenta e corrupta no Chile?".

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É bem verdade que Augusto Pinochet deixou o poder, mas continuou poderoso e impune. Por causa disso, as mulheres politizadas não podiam ter orgasmos enquanto a justiça não fosse feita. O tempo passou, não sei onde andam as feministas daquele tempo, Pinochet passou a curtir o seu vinagre e acaba de morrer.

Deixou uma herança amarga e milhares de mortos, desaparecidos e perseguidos, mas deixou também no Chile uma economia estável, a reboque do neoliberalismo que outros países tentam imitar.

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Desde Júlio César, os ditadores morrem. Uns assassinados, outros de morte natural, sem contar os que se suicidam. Mas as ditaduras são recorrentes. Qualquer bobeada nas instituições democráticas e há sempre um ditador de plantão, em "stand by" para salvar a nação.

Por mais que algumas ditaduras aumentem a taxa de desenvolvimento de um país, o saldo político é sempre negativo. O regime militar implantado no Brasil perseguiu, durante anos, o metalúrgico Lula, que hoje é presidente da República. No Chile, a atual presidente foi presa e torturada pelos esbirros de Pinochet e teve o pai assassinado durante o seu regime.

Apesar disso, há parcelas da opinião pública, tanto no Chile como no Brasil, que cultivam a nostalgia dos tempos de chumbo, achando que os governos tudo podem e que o povo, não sabendo votar, merece um déspota, que não precisa ser necessariamente esclarecido.

Basta ser ditador, governar com mão forte e não dar bola para o repúdio da nação.