Rio de Janeiro Leio no Josias de Souza que José Dirceu recebeu de Lula a missão de controlar Delúbio Soares e Sílvio Pereira, os dois dirigentes do partido que sabiam da coisa e, mais do que sabiam, administravam-na. Com outras tarefas importantes a cumprir, Dirceu não controlou devidamente um deles (Sílvio), que botou a boca no trombone, mas nem tanto, e fez algum estrago com suas recentes declarações.
Há ainda um amigo comum dos três (Dirceu, Delúbio e Sílvio) que é também ligado a Lula. Em gíria de hoje, seria esse o chassi da blindagem em torno do presidente. Apesar do estrago feito por Sílvio, o tsunami não chegou a atingir Lula pessoalmente. Mas todo o cuidado é pouco.
Apelando para a história recente, os casos de Collor e de Palocci, quem rasgou a fantasia deles não foram os auxiliares graúdos. Foi o escalão de baixo, um motorista, no caso de Collor, e um caseiro, no caso de Palocci.
Mesmo sem a fiscalização de Dirceu (ele próprio um potencial desmancha-prazeres para Lula), a coisa só ficará preta para o presidente quando um motorista, um faxineiro, um auxiliar de jardinagem do Torto, por qualquer motivo, ou mesmo sem qualquer motivo, for descoberto ou se descobrir e trazer um fato novo para o grande bolo preparado pelo PT e pelo governo. Bolo que está sendo comido pelas beiras, estranhamente transformado em pizza em alguns pedaços, mas cuja consistência não foi ainda afetada.
É evidente que um destempero de Delúbio será mais devastador do que o de Sílvio. E o de Dirceu, aliás improvável, também fará estragos consideráveis na figura já bastante estragada do presidente, que permanece oficialmente incólume e marchando em largas passadas para a reeleição quase garantida.
É possível que cheguemos a outubro sem que apareça esse motorista, esse faxineiro ou ajudante de jardinagem do Torto. Sorte de Lula, que terá mais tempo disponível para ajudar a combater a pobreza na Bolívia.
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