Todos têm o direito de acreditar ou não em um Deus, mas, uma vez escolhido um Deus e uma ciência relativa a Ele, o crente se obriga a um conjunto de idéias e modos que, em tese, o tornarão melhor diante do Deus que ele escolheu
Rio de Janeiro O teólogo suíço Hans Küng esteve entre nós e, mais uma vez, expressou a sua idéia básica: "A igreja (romana) deve tornar a vida das pessoas mais fácil, e não mais difícil". Ele desce a exemplos sintomáticos das dificuldades que a religião, no caso a católica, cria para seus adeptos. Acontece que todas as religiões, inclusive a católica, não se destinam a criar uma vida mais fácil para seus fiéis. Pretendem criar uma vida melhor em relação com o Deus escolhido.
E, em se tratando de um Deus escolhido pelo crente, a vida melhor não é exatamente a mais fácil, muitas vezes é a mais difícil. Todos têm o direito de acreditar ou não em um Deus, mas, uma vez escolhido um Deus e uma ciência relativa a Ele (a teologia, qualquer teologia), o crente se obriga a um conjunto de idéias e modos que, em tese, o tornarão melhor diante do Deus que ele escolheu.
Há religiões bem mais restritivas do que a católica em relação ao comportamento individual e social de seus crentes. Abstraindo os grandes temas polêmicos que irritam e dividem os fiéis (aborto, divórcio etc.), há religiões que proíbem transplantes, transfusões, serviço militar, certos alimentos e bebidas. Muçulmanos e judeus, que também professam o monoteísmo, cumprem uma agenda proibitiva tão grande ou maior do que a dos católicos.
Lembro de uma visita do ex-chanceler Shimon Peres ao Rio. Religioso, num sábado ele foi à sinagoga da ARI, em Botafogo. Estava hospedado em Copacabana. Com sua comitiva, ele atravessou o túnel Novo a pé: há judeus ortodoxos que guardam o sábado e evitam usar os recursos mecânicos que "facilitam" a vida do homem moderno.
Ninguém pode ser contra a vida fácil, que antigamente era atribuída a mulheres que a praticavam. Mas a finalidade das religiões é outra.