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Um programa na TV mostra como se dão os desastres aéreos. Tiran­te as condições atmosféricas, a maior parte dos acidentes se deve a pequenas, pequeninas causas no equipamento ou na manutenção. Vi outro dia um documentário que me fez pensar. Um avião moderno, dispondo de toda a tecnologia mais avançada, caiu no oceano ma­­tando ao todo 280 pessoas, entre passageiros e tripulantes.

Ao contrário de recente caso com um avião na rota Rio-Paris, acharam os destroços e as caixas pretas, sendo relativamente fácil determinar a causa do desastre. Na última revisão de rotina, um dos motores tinha um parafuso frouxo, e o mecânico decidiu trocá-lo. Foi no manual de operações, identificou o parafuso, pediu à fábrica uma peça igual, que se encaixou perfeitamente e o avião foi liberado para voar.

Acontece que o novo parafuso, por defeito de fabricação, tinha uma volta a menos em sua parte terminal. Daí que o encaixe foi perfeito, mas não completo. Os milímetros que faltavam não vedaram suficientemente um dos cabos hidráulicos, houve vazamento, fogo e morte de 280 pessoas.

Acabado o programa, pensei nesta relação de causa e efeito não apenas no nível mecânico, mas no social. A comunidade humana é um imenso aparelho com milhões de peças que se gastam e desgastam, precisando ser renovadas. Um parafuso com uma volta a mais ou a menos pode prejudicar o fluxo da história e criar outra história, ou seja, um desastre fatal. A sociedade tem mais peças que precisam ser constantemente repostas do que qualquer avião dos mais modernos. E os mecânicos não contam as voltas dos parafusos que normalizam o seu funcionamento. Voamos às cegas, com parafusos frouxos que podem nos levar ao desastre.

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