Rio de Janeiro No último domingo, a propósito do voto secreto adotado em algumas instituições, associações e clubes, contei um episódio folclórico na Academia Brasileira de Letras, que, apesar do esforço contrário de alguns de seus membros, cultiva esse tipo de processo eleitoral para a admissão de novos acadêmicos.
Não foi lembrança aleatória, mas motivada pela votação secreta (e em sessão secreta) da qual resultou a absolvição do presidente do Senado. A imprensa foi pródiga em publicar artigos e comentários contra o voto secreto, atribuindo-lhe agressões à moral, à compostura e à lei em geral.
Alberto Venâncio Filho, acadêmico e jurista de peso, mostrou-me trecho do discurso de Viriato Corrêa quando recebeu, em sessão solene, o jornalista e autor teatral R. Magalhães Jr., em 1955. Ignoro os motivos que levaram o autor de "Cazuza" a comentar de público um ponto polêmico do regimento daquela instituição. Mas foi o que de melhor li sobre o assunto. Item por item, se aplica ao recente caso que livrou o presidente do Senado de merecida cassação.
"O voto secreto é o voto impalpável, o voto que usa máscara. É o voto que não tem veias nem sangue para que se identifique a sua cor; voto que sofre de abulia, mas que é capaz de articular mentiras; voto que não tem corpo tangível, mas que carrega no seu bojo todo um mundo de simulação, de embuste e de logro.
O voto secreto é a contrafação de opinião, é a moeda falsa do mercado eleitoral. É o voto de duas caras, que finge estar acendendo uma vela a Deus quando, na verdade, acende a vela do diabo.
Vamos esperar que a Academia, na sua constante marcha de elevação, para maior beleza de suas escolhas, faça, um dia, a abolição do voto secreto!".
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