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Rio de Janeiro – Na versão que Orson Welles fez de "O Processo", de Kafka, o personagem Joseph K. atravessa cenários vazios, corredores desertos, tentando entender a culpa pela qual está sendo processado. De repente, abre uma porta e dá com uma gigantesca repartição, com centenas de funcionários sentados em suas mesas, trabalhando histericamente.

Para filmar a cena, Welles usou uma imensa estação ferroviária, com teto altíssimo e espaço para abrigar uma repartição monstruosamente ativa.

Tive experiência parecida num dos aeroportos mais modernos da Europa unificada pelo Mercado Comum. Fiz o check-in, segui as instruções para encontrar o portão por onde deveria embarcar. Subi escadas rolantes, peguei um pequenino vagão de metrô, atravessei corredores desertos, impecavelmente limpos e vazios.

As portas se abriam à minha aproximação, uma delas nem era uma porta comum, mas a porta de um elevador, que, sem ser comandada por ninguém, me deixou num labirinto de espaços frios, davam-me a impressão de que nunca tinham sido invadidos por ninguém.

Habitante solitário de um planeta de luz fria e chão de granito polido, só não estava perdido porque uma luz sempre se acendia à minha frente, pedindo-me para subir ou descer. Por mais que subisse e descesse, sempre dava de novo num corredor de luz fria e chão de granito. Até que, de repente, uma porta insignificante se abriu e dei de cara com um imenso salão, cheio de gente ruidosa, que estava, como eu, indo para alguma parte.

Todos falavam, reclamavam alguma coisa, pediam esclarecimentos. Por um instante, desconfiei de que havia errado o caminho, mas logo me incorporei àquela humanidade ensandecida. Nunca me senti tão perdido e inútil.

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