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O ano dedicado ao centenário da morte de Machado de Assis está chegando ao fim e até agora pouco ou nada me manifestei a respeito. Colegas da ABL, embora cordialmente, criticam-me pelo fato de não ter engrossado a onda que se formou para louvar o autor de "Quincas Borba", que é o meu romance preferido, não apenas na obra do mestre mas em toda a literatura nacional. Gosto não se discute – diz o vulgo.

Tirante um longo texto que escrevi para a edição comemorativa do Instituto Moreira Salles ("Cadernos da Literatura Brasileira", nº 23/24), nada fiz para louvar o mestre. Pelo contrário, dei algumas entrevistas declarando que Lima Barreto, como romancista, era superior a Machado, embora Machado seja, de longe, o nosso maior escritor.

Na maioria das matérias sobre "Dom Casmurro", que ficou sendo a principal referência machadiana, cansei de ouvir teorias sobre o adultério de Capitu e a repetição infindável de seus "olhos oblíquos e dissimulados".

O curioso é que a descrição do olhar da menina Capitu não é de Bentinho, seu namorado e mais tarde marido. É do agregado José Dias, um paspalhão esboçado pelo próprio Bentinho, que seria incapaz de observação tão sutil. É evidente que, depois de atribuir ao personagem mais ridículo da história a mais famosa definição de um olhar na literatura universal, o próprio Bentinho dela se apossa, acrescentando que os olhos de Capitu eram de ressaca.

Li não sei onde que o primeiro título que Machado daria ao romance seria "A Ressaca". No primeiro capítulo, Bentinho promete que durante a narrativa, se arranjasse título melhor, ele desistiria do "Dom Casmurro". Terminou mantendo-o, preferindo definir o personagem que conduz a ação, e não o pormenor que criou o drama principal.

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