Ninguém me pediu, mas gostaria de dar um depoimento sobre Arthur Sendas, assassinado nesta semana e cuja morte abalou a cidade, sendo ele apenas um empresário cujo nome se tornou conhecido e respeitado por todos.

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Já o conhecia de almoços na sede da Manchete. Ele nada devia ao grupo dirigente, nem anunciante chegava a ser. Era apenas amigo, nada pedia em troca, nem mesmo promoção pessoal. Acontece que o grupo entrou em dificuldades que o levariam à falência, mas, antes disso, durante alguns meses, quase um ano, os salários foram diminuídos e, finalmente, suspensos.

Tive a oportunidade de apreciar o quanto pode a solidariedade humana. Certa manhã, ao chegar ao saguão principal, vi umas 500 sacolas da Casas Sendas que Arthur mandara para distribuição entre os funcionários mais necessitados. Durante meses, os mais humildes servidores da empresa tiveram aquele reforço – arroz, feijão, óleo, farinha, leite em pó, café, alguns alimentos em conserva.

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Nada se podia dar em retribuição àquele gesto gratuito, espontâneo, de um empresário que já havia feito o mesmo sempre que sabia que uma legião de empregados estava com salários atrasados ou cortados.

Era religioso e vascaíno, devoto de são Judas Tadeu _santo dos desprotegidos. De aparência humilde, quando almoçava com ele logo me esquecia de que estava diante de um poderoso dono de supermercados. Ele se interessava pela cultura popular, pelas coisas da vida, nunca se insinuava como responsável por mais de 15 mil empregados.

Não se promovia pessoalmente. Nunca pedia nada. Os gestos de solidariedade que fazia não eram apregoados pela publicidade. Muitos dos beneficiados nem sabiam de onde vinham as sacolas sem o nome do doador.