Rio de Janeiro – Profissional do ramo, comendo o meu pão de cada dia por causa das muitas palavras que sou obrigado a escrever, já me desencantei com elas, as grandes palavras.

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Hoje, vivo e vibro com a palavra simples, que significa e traduz o prosaico de cada momento, o já citado pão, o obrigado, o por favor, o sim e o não sem transcendências, enfim, a palavra mecânica, acessório da carne, que não arromba aqui dentro, mostrando o que somos e queremos. Para isso – mostrar o que somos e queremos –, nada melhor do que o silêncio.

E foi assim, senhora, que vieste a mim, com sua avidez de vida e mistério, querendo ouvir as grandes palavras. A decepção foi cruel: além da carne, nada ficou para ser dito – pois disse tudo ao dizer que o amor se resume numa grande palavra e eu não te direi as grandes palavras.

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Já as disse, por aí afora, com sinceridade às vezes, por esperteza também, ou por necessidade de dizer alguma coisa – e aí a grande palavra me justificava e, no final de tudo, me dava a carne e o pão.

Daí: poder amar sem palavras, grandes e pequenas, deixar o silêncio frutificar, como queriam os místicos do deserto, os ascetas que choram de dor ao ouvir a voz humana, pois se habituam a ter espaço apenas para a própria voz, que soa como a voz de Deus.

Estou me perdendo na crônica. Também Deus – o próprio – necessita das grandes palavras, palavras de fogo e de amor, de cólera e de adoração – a boca de Isaías e de Daniel –, águia e leão – Deus é para essas coisas. O amor também pede de nós o rugido do leão, a visão (a antevisão) da águia.

Ter em mim o leão e a águia. Mas em silêncio, pois não direi as grandes palavras para ocultar a pequenez deste amor tão grande e tão nosso.