RIO DE JANEIRO Abro o notebook para a crônica diária e descubro que estou sem assunto.
Li os jornais, tiro os noves fora e não desencavo um tema que valha a pena, embora não use mais pena, mas, como disse acima, um notebook de geração jovem.
Deve ser crise passageira que se prolonga há alguns anos desde que comecei a escrever, no século passado. Especializei-me na falta de assunto. No fundo, não deixa de ser um assunto, por acaso muito bom.
Falar mal de Bush, de Chávez, da Bolívia, do Lula (falar bem dá no mesmo, não mudaria Bush, nem Chávez, nem a Bolívia nem muito menos o Lula); o cavalo que foi trocado pelo Acre, a onda de violência que explodiu em São Paulo; espinafrar o Freud, que estaria fazendo 150 anos (nunca dei bola para ele e não daria agora); alertar sobre o otimismo em relação à Copa do Mundo que vem por aí.
Nada disso me emociona.
Pior mesmo é pensar na sucessão presidencial e tirar conclusões metafísicas sobre a reeleição de Lula e a recusa do PMDB em ter candidato próprio. São assuntos que saturam o saco de todos, embora nem todos percebam que estão com os respectivos sacos saturados.
Uso o "saturado" para evitar o "cheio". Outro dia, falei em "saco cheio" e fui advertido por uma leitora eu estava usando imagens vulgares. Daí que mudei o adjetivo, preservando o saco, o substantivo é o que importa.
Peguei um jornal e tentei ler a notícia de uma licitação, na certa catimbada, cheia de códigos legais. Deve ter mutretas as mais variadas, que podem dar bolo, segundo o rodar da carruagem e dos instintos investigativos da mídia.
Taí. Poderia ter encontrado um assunto, mas é tarde: o assunto e o espaço acabaram.
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