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Rio de Janeiro – Não era exatamente um folião. Mas, de cara cheia, topava um baile ou outro, principalmente os da pesada.

Casara-se havia pouco, uma loura da Tijuca, que havia sido candidata a miss. Era jornalista, como eu, e, como advogado, ganhava os tubos numa empresa estrangeira. Enfim, tinha um futuro diante de si e algum passado.

Um desses passados tinha a forma e o gosto de uma balzaquiana, que também freqüentava bailes da pesada, realizados geralmente na semana que antecede o carnaval, em horário vespertino e em local camuflado. No fundo, uma grossa esbórnia que abrigava pessoas sérias e comprometidas.

A princípio ele não quis ir. Alegou que não era de farra – o que era verdade –, estava casado havia pouco e gostava da mulher – o que também era verdade. Mas insistimos e, com algumas caipirinhas antes do almoço, lá foi ele ao baile que se chamava, não me lembro mais por que, de Baile do Cabide.

Foi entrar no salão, já de cara cheia, e topou com aquele passado. Sim, lá estava ela, com um acompanhante de circunstância, esfregando-se em todos, olhando para todos, dando bola até para o pessoal da orquestra. Eles haviam rompido há tempos, justamente quando marcara o casamento com a tal guria da Tijuca. Nunca mais haviam se visto, ela não fizera escândalo, simplesmente assumira a sua vida livre e alegre, continuando a ser como era: mais ou menos de todos. Ele mudara: tornara-se um burguês pacato, com cama certa, mulher certa, hábitos certos.

Tomou umas caipirinhas a mais e tomou, sobretudo, coragem. Tirou-a dos braços do acompanhante e declarou: "Você é minha!". Ela perdeu o fogo, ele perdeu cabelos, mas ganharam a certeza de que eram um do outro, para o bem ou para o mal e para sempre.

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