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Há pragas que acompanham as desventuras de um cronista – e ser cronista já é uma espécie de praga em si. As mais constantes são a falta de assunto e a falta de tempo. Hoje, com algum exagero, surpreendi-me com as duas pragas juntas: sem assunto e sem tempo. E, à falta do que falar mal, resolvi colocar-me em dia com um velho desafeto meu: o bigode.

Não o bigode de vós outros que usam bigode, mas o meu próprio bigode. Herdei de dois tios-avôs duas máximas importantíssimas a respeito do assunto. Um deles dizia: "homem com vergonha na cara não usa bigode". O outro dizia com o mesmo entusiasmo e a mesma indignação: "homem sem bigode na cara é mulher".

Meu coração nunca balançou entre as duas sentenças. Não iria colocar o meu caráter ou a minha virilidade no bigode. Mas acontece que quando saí do seminário andei escandalizando meio mundo com minha cara de seminarista foragido. Eu próprio me escandalizava. Só quem esteve num seminário pode avaliar o drama de fingir que nunca foi seminarista. Lembro de dois, Roberto Campos e Austregésilo de Athayde. Podia lembrar até mesmo o próprio Josef Stalin.

Até que um dia olhei-me no espelho e vi que com aquela cara ficaria o resto da vida com jeito de coroinha. Deixei então crescer o bigode e a concupiscência, sinceramente convencido de que jamais seria confundido com um ex-seminarista.

Adquiri essa cara sinistra que hoje ostento, misto de traficante de cocaína e de vilão de cinema mexicano, ou como queiram, de cantor de tangos ou – no polo oposto, de chanceler turco. Não sou nada disso. Não faço tráfico de cocaína, nem coca-cola tomo. Tampouco gosto de chanceleres turcos. Agora, sou amarrado em tangos que, entre outras coisas abomináveis, às vezes justificam meu bigode.

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