Rio de Janeiro – Embora o presidente da República tenha dois meses para escolher sua nova equipe (se é que vai mesmo mudar ministros), está aberta a temporada de caça aos ministérios, estatais e cargos de escalões superiores. Numa hora dessas, é obrigatória a leitura de dois capítulos de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". O primeiro deles é "De como não fui ministro d’Estado". Consta de cinco linhas de reticências, dando a entender que tudo se passou nos conformes da política daquele tempo, que, afinal, não é muito diferente do nosso.

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O capitulo seguinte intitula-se "Que explica o anterior". Vale a transcrição: "Há coisas que melhor se dizem calando; tal é a matéria do capitulo anterior. Podem entendê-lo os ambiciosos malogrados. Se a paixão do poder é a mais forte de todas, como alguns inculcam, imaginem o desespero, a dor, o abatimento do dia em que perdi a cadeira da câmara dos deputados. Iam-se-me as esperanças todas; terminava a carreira política. E notem que o Quincas Borba, por induções filosóficas que fez, achou que a minha ambição não era a paixão verdadeira do poder, mas um capricho, um desejo de folgar".

E Machado termina o capítulo de forma genial: "Tudo tinha a aparência de uma conspiração: e, conquanto eu estivesse na ‘minha’ sala, olhando para ‘minha’ chácara, sentado na ‘minha’ cadeira, ouvindo os ‘meus’ pássaros, ao pé dos ‘meus’ livros, alumiado pelo ‘meu’ sol, não chegava a curar-me das saudades daquela outra cadeira, que não era minha".

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Para se tornar ministro, Brás Cubas precisava eleger-se deputado. Tudo, segundo Machado, eram "favas contadas", daí as reticências do capítulo anterior. Temos agora dezenas de Brás Cubas na praça, todos se esbofando para ocupar uma cadeira que dificilmente será dos mais afoitos.