O Senado continua a oferecer um show da condição humana, que, mesmo em nível parlamentar, é o que conhecemos: feita de barro, sujeita aos mil acidentes da carne e do espírito. O bate boca feroz entre Eduardo Suplicy e Heráclito Fortes revela a tênue casca de civilização que todos vestimos para suportarmos uns aos outros.
Foi sem dúvida um espetáculo lamentável, na medida em que tentou reavivar uma crise (também lamentável) que ocupou o noticiário e o apetite de sangue, exigindo o mata! esfola! cívico com o qual a turma que se considera do bem tem saciada sua fome de moralidade.
O caso Sarney, para todos os efeitos, está encerrado. Lula não pode governar sem o PMDB, e o PMDB, até que surja nova liderança, é Sarney. Curiosamente, está sendo reeditada a dicotomia que prevaleceu nos anos 80, com a dupla Sarney-Ulysses Guimarães. Embora do mesmo partido, Sarney não tinha ainda o som e a fúria do velho MDB, que Ulysses encarnava historicamente. O jeito foi governar com ele. Sem Ulysses, o governo de Sarney não duraria o que durou. O que fez de bom (transição democrática e Constituinte) não teria sido feito.
Por mais estranho e ridículo que pareça, a história agora se repete. Para governar e emplacar um(a) sucessor(a), Lula precisa do PMDB, precisa de Sarney.
Não adiantam as portas do inferno petista baterem contra a dupla. Não prevalecerão estou citando um texto bíblico. A política tem uma política que a própria política desconhece.
Não adianta chorar nem tentar expulsar os jogadores. Sem eles não há jogo e todos acabam perdendo, entrando em campo a tropa de choque, que aproveita a confusão para uma volta ao passado, quando toda a nação, quando todos nós vivíamos ameaçados por um cartão amarelo.
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