Rio de Janeiro – Embora legalizada em outros países, a eutanásia continua proibida no Brasil. No entanto demos um apasso importante em direção à dignidade do único episódio vital que é a morte. Com isso estou lembrando a frase de santo Agostinho: "A vida não é mortal, a morte é que é vital".

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A ortotanásia difere da eutanásia porque não interrompe a vida do doente terminal, simplesmente deixa que a natureza siga o seu caminho. Os adversários da eutanásia a consideram um assassinato, porque se trata de um ato específico que provoca o fim. A ortotanásia, de certa forma, é um não-ato aprovado previamente pelos médicos e pelas famílias e, em alguns casos, pelo próprio paciente em condições de expressar uma vontade.

Mas, todas as vezes que ouço falar em eutanásia, me lembro do "chá da meia-noite", que diziam ser comum nos hospitais públicos. Os doentes desenganados recebiam uma visita suplementar, que caridosamente oferecia um chá incrementado ao paciente, dizendo que se tratava de uma mordomia em paga pelo bom comportamento do enfermo. Garantiam que o chá era um prêmio que tinha uma eficácia assombrosa para curar doenças e aliviar dores.

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Comovido, o doente bebia o chá com sua auto-estima redobrada: era um enfermo bem-comportado e merecedor de atenção especial da direção da enfermaria. No dia seguinte, havia um leito vazio no hospital. A prática do "chá da meia-noite" é negada por alguns e confirmada por outros que sobreviveram à mordomia letal. Se verdadeiro, o chá era um assassinato, embora tivesse o nome pomposo de caridade ou a denominação técnica de "eutanásia". A questão da morte induzida sempre provocou polêmicas. Mas, desta vez, a Igreja Católica aprovou a ortotanásia numa atitude que alguns consideram surpreendente.