RIO DE JANEIRO – Ruas e praças de todo o Brasil estão vestidas de verde e amarelo. Faixas, símbolos e bandeiras nacionais dão a impressão de uma festa cívica comemorada pelo povo, com entusiasmo; mais do que entusiasmo, com devoção. A pátria ganha contorno de sacrário.

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Antigamente, o povo se enfeitava e enfeitava ruas e casas para o carnaval. Hoje são as prefeituras que fazem a decoração de cima para baixo, colocam alguns pandeiros combalidos nos postes das ruas principais e acreditam que estão incrementando a outrora grande festa popular.

A Copa não precisa de governos federal, estadual ou municipal. Ela mexe com a persona, a própria alma nacional. Já foi dito que a seleção é a pátria de chuteiras. Não é bem isso. As chuteiras quase não importam. Importa o "Brasil", é ele quem ganha ou perde – o resto é silêncio.

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Passo pelas ruas em festa e vejo que são raras as fotos dos jogadores, mesmo os mais queridos e badalados. Cada um tem os seus ídolos quando se trata propriamente de futebol, mas, durante uma Copa, valor mais alto se levanta.

Não é Ronaldinho Gaúcho, nem o outro Ronaldo, nem Kaká nem Cafu nem Parreira que contam e cantarão vitória – se ela vier mesmo.

O que contará, para o bem ou para o mal, é a pátria, a família amplificada segundo Rui Barbosa, sendo a família o indivíduo simplificado.

Lembro a Copa de 70, num dos piores momentos do regime militar que sofríamos. Houve até uma campanha para que o povo torcesse contra o Brasil, para não encher o gás da ditadura.

Não adiantou. As mesmas bandeiras, as mesmas faixas verde-amarelas que o governo espalhava pelo país o ano todo, para incrementar o civismo dos tempos totalitários, enrolaram o povo na grande festa do tricampeonato.

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