Cultivo abominável admiração por personagens polêmicos, desde que inofensivos. Clodovil Hernandez estava entre eles. Não entendo de política e muito menos de moda, mas acompanhei a sua vida profissional com interesse, achando que ele sabia fazer um gênero que lhe causou críticas e insultos, mas lhe deu a popularidade responsável pela exuberante votação que obteve para a Câmara de Deputados.
Apesar de admirá-lo, só estive com ele pessoalmente por ocasião da pesquisa que realizava para produzir a novela Dona Beja, na Rede Manchete, da qual era superintendente da teledramaturgia. Clodovil havia participado de um programa sobre a vida da heroína mineira. Herval Rossano, que seria o diretor, apresentou-nos e fiquei deslumbrado com o conhecimento que ele tinha sobre a personagem.
Até então, baseara-me em dois livros sobre o assunto, o de Thomas Leonardos e o de Agripa de Vasconcelos, este último autor de clássicos sobre os grandes mitos de Minas Gerais, como Chico Rei e outros.
Clodovil revelou cultura não apenas sobre a vida de Dona Beja, mas sobre a virada do século 18 para o 19, incluindo a tentativa da criação do Estado do Triângulo Mineiro, que colocou aquela Província em litígio com a corte de dom João VI. Deu informações sobre cenários, vestuários e a intriga em si, inclusive a cena em que Dona Beja, vivida por Maitê Proença, dá uma de Lady Godiva, passeando nua em cima de um cavalo na noite mágica de Araxá.
Como deputado, criou alguns casos próprios de seu temperamento, mas deixou projetos interessantes, obrigando empresas a financiar exames precoces de câncer nos empregados acima de certa idade, e um outro tratando da adoção de crianças.
Para o tipo que foi, dou-lhe nota dez.
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