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Rio de Janeiro – Ingredientes: um cavalo; uma chuva.

Modo de preparar: pega-se um cavalo que esteja na chuva e, usando de persuasão ou de força, obriga-se o animal a se dirigir a um lugar seco, onde deverá ficar até que a chuva passe.

Modo de usar: são inúmeras as vantagens de tirar um cavalo da chuva, qualquer cavalo, da chuva, de qualquer chuva. Chuva e cavalo podem se misturar, mas há que tomar cuidado para não prejudicar a natureza dos ingredientes, ficando o cavalo molhado demais e a chuva, que deveria fecundar o solo fazendo nascer o trigo e as flores do campo, ficar molhando inutilmente o cavalo, que não produz flores nem trigo.

Outro mérito de tirar o cavalo da chuva, sobretudo para quem não dispõe de um cavalo, mas está sujeito a chuvas e trovoadas, é fazer o que deve ser feito, ou seja, tirar o cavalo da chuva e, se possível, tirar-se a si mesmo da chuva.

Sabe-se que quem está na chuva é para ser molhado. Recomenda-se tirar o cavalo da chuva em ocasiões especiais, como votações no Congresso, prorrogações de medidas provisórias, reescalonamento de dívidas públicas, cargos e funções.

É preferível tirar o cavalo da chuva, mantendo-o enxuto, do que enxugá-lo depois de molhado. Em caso de dúvida, para saber se o cavalo está molhado ou não, aconselha-se um relatório do senador Epitácio Cafeteira.

Mas convém não exagerar e, a pretexto de enxugar o cavalo molhado pela chuva, enxugar os orçamentos da saúde, da educação, dos transportes, da segurança.

Como servir: com o cavalo tirado da chuva, pode-se fazer muita coisa ou nada fazer. Em ocasiões mais críticas, o melhor é montá-lo e partir indignado em todas as direções. (Esta crônica é dedicada a todos os cavalos que estão na chuva).

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