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Parece piada, mas não é. Na crise aberta no governo por causa da Lei da Anistia, os bombeiros de plantão descobriram um modo de aliviar as tensões. Apelaram para a semântica: onde se lê "repressão política" leia-se "conflitos políticos".

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Vamos com calma. No período da ditadura (1964-1985), houve as duas coisas. Houve conflitos, mas relativamente poucos, pontuais, quando as forças do regime atuavam militarmente contra os bolsões de resistência que contestavam a ordem em vigor, uma ordem totalitária e acima das leis e dos direitos humanos.

Agora, repressão houve – e foi muito pior, porque durou muito e atingiu a sociedade como um todo. Enquanto os conflitos se limitavam à eterna luta dos azuis e vermelhos, os prós e os contra a ditadura, a repressão foi uma cortina de chumbo que isolou a nação de seus direitos básicos, como a de ter opinião e poder expressá-la.

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Dou exemplos: no Araguaia e em outros lugares, houve conflito, bandidos contra mocinhos, conforme a posição de cada um. Mas o desaparecimento do deputado Rubem Paiva, o assassinato de Vladimir Herzog e de toda a cúpula do Partido Comunista não foram episódios militares, mas ações coordenadas da repressão mais feroz de nossa história.

Para efeito histórico, no período do regime totalitário houve as duas coisas: os conflitos e a repressão. Do ponto de vista militar, a guerrilha do Araguaia poderia ser considerada um conflito entre forças antagônicas, embora não proporcionais. Mas o arsenal de regulamentos, portarias, avisos e prisões que o regime despejou contra a sociedade foi uma repressão generalizada que afetou toda uma geração, inclusive a dos neutros.

Repito: os conflitos foram pontuais e isolados. A repressão castrou por 21 anos as esperanças de todos.