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Durante alguns anos, era obrigado a passar os três dias trabalhando, cobrindo folias, bailes e desfiles

Nunca fui entusiasta do carnaval, nem o do Rio nem o de outras cidades tidas como folionas, como Salvador e Recife. Tampouco sou entendido no assunto. Por isso mesmo, o carnaval que melhor conheço é do Rio – o mais badalado ainda, embora discutido em suas raízes epistemológicas e na semiótica de suas propostas.

Vai daí, é do carnaval carioca que falo, abrindo a necessária ressalva: é possível que no Recife e Salvador a momesca festa esteja florescente e bela. No Rio, realmente, o carnaval mudou tanto que ficou chato. Ainda é belo – à custa de uma superprodução cada vez mais complicada e cada vez mais financiada.

Durante alguns anos, era obrigado a passar os três dias trabalhando, cobrindo folias, bailes e desfiles. A primeira constatação, que salta aos olhos, é a velhice do nosso carnaval. São sempre as mesmas figuras, os mesmos colunáveis, os mesmos pândegos, os mesmos esquemas, sobretudo, as mesmas mulheres.

Ah, as mulheres! São as mesmas, sombras e sobras de outros carnavais. Colocaram botox, cortaram quadris e coxas, fizeram lipoaspiração para manter a silhueta – temos nos arquivos profissionais as mesmas mulheres de dez, quinze anos atrás, Descobrimos o roteiro do bisturi que modificou a antiga deusa – hoje recauchutada.

A própria animação é à antiga. Por isso os jovens de hoje estão definitivamente em outra. Compreendo-os ao menos nisso: eles se afastam do inarredável tríduo momesco.

Aos poucos, a festa está mesmo ficando para a meia idade e para velhos que esperam o carnaval para rodar a baiana.. Os jovens fazem isso com naturalidade, durante o ano todo – embora em inglês e em som estereofônico – o que dá para desconfiar que também eles não estão com nada.

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