Rio de Janeiro Enfim, também sou filho de Deus, e chegou o meu dia. Anos e anos acumulando fracassos, quebrações de cara, o diabo, eu deveria merecer uma compensação, nem que fosse por direito de antiguidade e insistência.
De minha parte, já andava meio cheio (gosto muito deste "meio cheio") com as coisas aqui da Terra. Outro dia, fui parado na rua por um grupo de jovens que exigiam minha assinatura num manifesto pela salvação das baleias do Alasca. Entre o Alasca e Vassouras, prefiro Vassouras mesmo.
Ainda na crônica de ontem, falei sobre as baleias, xingadas nos dicionários e compêndios de "cetáceos". Deveria falar de Lula e de Alckmin, mas, como todos os colunistas estão falando deles, fico mesmo com os "cetáceos".
Não quer dizer que eu tenha alguma coisa contra as baleias. Já fui acusado de muitas coisas abomináveis, de falhas de ortografia, gramática e moral, mas nunca se ouviu dizer que um adversário meu tenha tido a audácia de insinuar que sou inimigo das baleias. Domingo passado, ia para a praia e esbarrei com uma passeata monstro. Queriam que eu descesse do carro e me integrasse ao movimento que clamava, nas ruas de Ipanema, pela preservação das matas amazônicas.
É outro ponto pacífico de minha obscura biografia: nada tenho contra a Amazônia, Deus é testemunha disso. Disse que preferia continuar meu passeio, e fui acusado de incendiário, de assassino da natureza e de cúmplice dos desertos.
Por essas e por outras, sinto que é hora de pegar o boné e me mandar. Estou me tornando um solitário compulsório, volta e meia me sinto um pouco como Rigolleto depois que lhe raptaram a filha: "Restò scornato ad imprecar". Ou como o anacoreta que Zaratustra encontrou nas montanhas e que orava, chorava e murmurava.
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