Nos últimos anos, o Brasil não tem dado boa vida aos fumantes. Ficou proibido fumar na maioria dos recintos, entre os quais aqueles em que a medida é acertada aviões, táxis, elevadores, salas de espera, consultórios, escolas, bibliotecas, hospitais, creches, lactários. E em outros que a razão não alcança, como cafés, botequins e escritórios, que tiveram de restringir o fumo, confinando-o nos fumódromos.
A razão não alcança, mas a sociedade submeteu-se a essas restrições. Os fumantes recolheram-se à sua condição de cidadãos de terceira classe e foram fumar nos espaços que lhes restaram. Debalde. O governo de São Paulo e a prefeitura do Rio tentam agora tomar esses espaços, proibindo o cigarro em qualquer área interna e, na prática, fechando os fumódromos. Para esses governos, não basta banir o fumo, é preciso banir o fumante.
Além de ser proibido fumar, ficou proibido também ser contra a medida. Qualquer tentativa de racionalização que pareça, mesmo de longe, a favor do fumo provoca em resposta uma secreção desproporcional de espuma e bile. O ódio ao cigarro (a essa altura, exercido pela maioria) nega à minoria de fumantes um mínimo de direitos, inclusive o de se defender.
Ódio ao cigarro comercial, bem entendido porque o lobby da maconha continua a pregar sua descriminalização, como se ela fosse ingerida na forma de pirulitos ou jujubas, e não de um cigarro a ser queimado, tragado e expelido, tal qual o industrializado. Ninguém se preocupa com os fumantes passivos de maconha?
Resta saber o que os fiscais farão em ambientes como boates, discotecas e festas rave. Já posso ver o responsável sendo autuado por permitir que seus clientes fumem Marlboro em vez de se limitarem à birita, ao ecstasy e à cocaína.