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Ao contrário do que previam alguns arautos do fim do mundo, os europeus ligaram seu grande acelerador de partículas e nenhum buraco negro engoliu o planeta. Espero que ninguém tenha resolvido, no impulso, fazer algo de que vá se arrepender depois, como descer as Cataratas do Iguaçu num barril, gastar todo o dinheiro comprando ações na Bovespa ou declarar voto na Marta Suplicy. Por outro lado, como o mundo ainda gira e a Lusitana ainda roda, não escapei de pagar a taxa de condomínio, que venceu ontem.

Um dos objetivos, talvez o principal, dos cientistas envolvidos no projeto do Grande Colisor de Hádrons é tentar reproduzir a origem do Universo, os momentos imediatamente seguintes ao Big Bang. O que nem todos sabem sobre a tal grande explosão que teria dado origem a tudo isso aqui é que a teoria saiu da cabeça de... um padre belga, monsenhor Georges Lemaître, físico e astrônomo, veterano da Primeira Guerra Mundial, e que dava aulas de batina e tudo. Mas o caso de Lemaître não é o único, já que o pai da genética, Gregor Mendel, era monge; e Nicolau Copérnico, embora nunca tenha sido ordenado padre, ocupava cargos na Igreja, o que não o impediu de desenvolver o heliocentrismo.

Como, até onde se sabe, nem Lemaître, nem Mendel, nem Copérnico perderam a fé por causa de suas teorias, é de se imaginar que religião e ciência talvez não sejam forças opostas, incompatíveis, que vivem se estapeando, como alguns costumam defender – sejam os adeptos da ciência como esclarecedora de toda a realidade, sejam religiosos que vêem a ciência como coisa do diabo. É verdade que a ciência se preocupa mais com os "comos" e a religião, com os "por quês", mas a colaboração é altamente saudável: entre outras coisas, os cientistas colaboram para acabar com a superstição, e a religião propõe reflexões éticas que impedem a humanidade de passar por uma degringolada dostoievskiana.

Se a relação entre ciência e religião é algo que intriga o leitor, não deixe de visitar o blog Tubo de Ensaio, no site desta Gazeta (www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio). O objetivo é levantar essas e outras bolas para estimular a discussão, seja você um adepto dos tapas ou dos beijos.

Marcio Antonio Campos é jornalista.

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