Deus é testemunha de que nada tenho contra feriados e festejos vários que, de alguma forma, ajudam a humanidade a suportar a barra, os "mil acidentes da carne" lembrados por Shakespeare. Acontece que no Brasil a dose é cavalar. Basta lembrar que neste mês de abril, com apenas 30 dias segundo o calendário gregoriano, tivemos três feriados: Sexta-Feira Santa, Tiradentes e, aqui no Rio, São Jorge. Dois religiosos e um cívico. Repito: é dose.

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Na Itália, país obviamente católico, apostólico romano, a Sexta-Feira Santa não justifica um feriado: é um dia normal. É bem verdade que, após o Domingo de Páscoa, há feriado, tão sagrado quanto o "agnello pascale", que os italianos de todas as crenças comem em comemoração ao "Signore Rissorto", como se canta naquele belo hino da "Cavalaria Rusticana".

Evidente que há dias merecedores de feriado, mas dois deles, ambos em nível estadual, me parecem exagerados: o da Consciência Negra (Zumbi) e o de São Jorge, que celebra um santo polêmico dos católicos e um dos maiorais nas religiões que importamos da África, sob a invocação de Ogum.

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Não vem ao caso argumentar que o Estado é laico. A festa do Natal, por exemplo, embora cristã em seu significado, foi incorporada ao calendário ocidental. Para lembrar a consciência negra já temos o Dia da Abolição, que nos obriga a meditar sobre a miséria da escravidão, que mancha a nossa história e que não está totalmente apagada de nossa consciência nacional.

Quanto a São Jorge, como disse acima, trata-se de um santo polêmico. Chegou a ser cassado por se tratar de um personagem mais lendário do que histórico. Pressionada pelos muitos e fervorosos devotos (o santo é padroeiro inclusive da Inglaterra), a Igreja voltou atrás.