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Durante anos, trabalhei como editor de uma revista de atualidades amenas. Minha ‘finest hour’ eram os números dedicados ao Carnaval.

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O produto precisava estar nas bancas na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, varava três dias e três noites ajustando o time da redação, da gráfica e da distribuição, daí que sempre acontecia qualquer barbaridade.

Lembro algumas gafes: um dos blocos programados não desfilou e havia uma página a ele dedicada. Bolei uma sucessão de fotos individuais.

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Na confusão da hora, a gráfica me cobrando o material, o contínuo da redação mostrou-me de longe uma foto destinada a um ensaio sobre Jorge Luis Borges, que deveria sair na semana seguinte.

Fiz um gesto qualquer e o Evaldo pensou que fosse de aprovação. Botou a foto na mesa do Flávio de Aquino, que estava fechando aquela página.

Crítico de arte, professor universitário, Flávio era distraído e já havia criado uma das melhores definições de arte que conheço: ‘A arte foi feita para chatear o Flávio de Aquino’. Por isso ou aquilo, ele não pediu explicações e ninguém as deu.

A foto mostrava Borges de casaca, bengala e óculos escuros, numa cerimônia ao lado do editor Harold MacMillan, que por sinal era primeiro-ministro da Inglaterra e estava igualmente de casaca, bengala e óculos escuros. Bastante idosos, trêmulos, os dois pareciam cair pelas tabelas, sustentando-se com dificuldade.

O Flávio era um redator categorizado, mandei a matéria para a oficina sem ler a legenda que ele tinha bolado. O título que deu para a foto foi ‘Foliões avulsos’. E o texto era mais ou menos assim: ‘Dois foliões de um bloco do Catumbi causaram sensação e arrancaram muitas palmas da Marquês de Sapucaí’.

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