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Rio de Janeiro – A incapacidade do cronista em fazer frases inteligentes levou-o a admirar aqueles que são capazes de fazê-lo, como Nelson Rodrigues, o mais famoso e citado de todos, seguido de perto por Otto Lara Resende, a quem precariamente substituo neste canto de página desde 1993.

Outro que admiro e louvo é Joel Silveira, que morreu na semana passada. Lembrarei algumas delas. Estávamos presos no Batalhão de Guardas, em São Cristóvão, desde o dia 13 de dezembro de 1968, quando foi baixado o AI-5. Certa manhã, da única janela de que dispúnhamos, vimos chegar ao pátio do quartel um camburão trazendo famoso empresário daquele tempo. Joel encheu o peito e gritou: "Aqui é prisão de subversivo. Prisão de ladrão é em outro lugar!".

Perguntaram a ele qual o jornal mais poderoso do mundo. Joel respondeu que era o "New York Times". E acrescentou: "Se quiserem destruí-lo, basta me chamarem para diretor de redação. Em menos de um mês levo o jornal à falência". Numa reunião com estudantes, quiseram saber de Joel por que nos Estados Unidos não havia golpe de Estado. Ele respondeu na bucha: "Porque lá não tem embaixada americana".

Nascido em Lagarto (Sergipe), Joel se orgulhava de seu burgo natal ter sido o único em que Lampião não entrara. Rubem Braga dizia que em Lagarto não havia nada para assaltar. Joel tinha outra explicação: "É uma cidade boa para se sair, não para se entrar".

Num trabalho que fizemos juntos, na Itália, levei-o para almoçar no Dodici Apostoli, em Verona, quase ao lado da antiga sede da Mondadori. Ele examinou o restaurante, encomendou vários pratos, bebeu duas garrafas de chianti e me pediu: "Manda dizer lá para o Rio que o jornalista Joel Magno Ribeiro Silveira não sai mais daqui".

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