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Rio de Janeiro – Na última sexta-feira, morreu aqui no Rio um dos homens mais inteligentes e cultos que conheci no tumultuado universo das letras. Gerardo Mello Mourão teve biografia acidentada e obra mais que consagrada. Chegou a ser indicado por intelectuais franceses e italianos ao Prêmio Nobel.

Um de seus livros, "O Valete de Espadas", traduzido na França e publicado pela Gallimard, foi escrito numa de suas prisões, durante a ditadura do Estado Novo, e é um livro que alguns críticos apontam como uma de minhas influências. Ele teve a honra de ser preso pelas duas ditaduras de seu tempo, a de Vargas e as do regime militar de 1964.

Foi membro assumido da Ação Integralista e chegou a ser acusado de espionagem a favor dos nazistas – valia tudo para desclassificar os seguidores de Plínio Salgado, liderança absoluta da direita no final dos anos 30.

Homem culto, formado e informado num seminário católico, traduzia latim e grego com espantosa facilidade. Nem por isso deixou de ser influenciado pelos cordelistas que encantaram a sua infância.

Poeta rigoroso, na mocidade fez parte de um grupo que parafraseou aquele "Aut Caesar aut nihil", criando a divisa: "Ou Dante ou nada". Rasgou todos os versos anteriores e partiu para uma obra poética sofisticada, de talho clássico. Mas nunca abandonou de todo a ficção e o ensaio.

Foi colaborador da Folha durante 40 anos e deputado federal cassado pelos militares. Como Guimarães Rosa, usava gravata borboleta, viajou o mundo todo e tinha um humor próprio. Um grande conversador, imitava Plínio Salgado e outros líderes daquele tempo com uma ponta de malícia crítica. Considerava-se frustrado porque não era um santo como a mãe dele queria que fosse. E que ele próprio gostaria de ser.

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