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Carlos Heitor Cony

Guevara

Rio de Janeiro – Os 40 anos da morte de Guevara estão provocando matérias na mídia internacional, a maioria a favor do mito, outras, em menor número, apresentando o outro lado do herói, sua crueldade para com os adversários, sua incompetência como administrador.

Como sempre acontece, os dois lados têm razão. Guevara foi e continua sendo o maior exemplo de paixão por um mundo melhor, mártir que se imolou por uma causa nobre, a justiça social. Neste particular, seu nome e rosto de guerrilheiro ficarão para sempre.

O outro lado é também verdadeiro. Após a revolução, e entronizado no poder como o segundo homem na hierarquia cubana, mostrou que não tinha vocação nem entusiasmo pela função pública. Seus planos econômicos foram um desastre.

Foi eficiente apenas na temporada que se seguiu à tomada do poder, quando assumiu a responsabilidade pelas centenas de fuzilamentos dos adversários, muitos deles sem nenhum julgamento.

Contudo, sua grandeza pessoal e a dedicação consciente e permanente à causa que abraçou fizeram dele o melhor logotipo das reivindicações humanas que encarnou como nenhum outro em nosso tempo.

Quando cheguei a Cuba, logo após a notícia de sua morte na selva boliviana, meu maior espanto foi ver uma cédula de cem pesos emitida nos primeiros anos do novo regime. Como acontece com todo papel-moeda, lá estava a assinatura do presidente do Banco Central daquele país: o mesmo Che que morrera de arma na mão, lutando contra o poderoso moinho de vento do imperialismo capitalista.

Nunca se deverá julgá-lo por sua atuação como executivo funcional ou estadista político. Ele desprezava as duas funções. A crueldade com que mandou fuzilar adversários foi a mesma que se voltou contra ele.

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