Outro dia, um cronista de brado retumbante como aquele grito do hino nacional, desabafou com uma amiga. Disse ele que fizera anos, 50 parece, e dera uma festa num lugar badaladíssimo em São Paulo, às margens do Ipiranga, como no hino acima citado. Mais de 300 pessoas, presentes mil, milhões de tapinhas nas costas. E o mais interessante: ele não entrou com um centavo para a festa. Foi tudo mordomia dos amigos do peito, dos amigos de infância e recentes que desejavam festejar o colunista.
Chegou a ouvir um discurso, candidato a governador não perdera a oportunidade e deitara verbo inflamado, enaltecendo as qualidades do aniversariante e insinuando que, eleito como as pesquisas apontavam, faria dele seu assessor de imprensa. (Palmas)
Estava feliz? Não. Lembrava-se que no ano anterior ficara sem jornal, não tinha coluna. Ele passara o dia junto ao telefone, ninguém ligara para ele. Quando a noite caiu, tomou coragem. Afinal, era o aniversário dele. Chamou cinco amigos, foram jantar no Fasano, quem pagou a conta foi ele.
E teve um momento bom: no meio do jantar, chegara a se esquecer que fazia anos naquele dia. E os amigos nem sabiam por que haviam sido convidados.
Ao voltar para casa, ao menos estava tranquilo. Ele não esquecera de se festejar e encontrara cinco amigos que sem saber o ajudaram a se comemorar. Mas antes de dormir resvalou na fossa: ele é quem tomara a iniciativa de se festejar. Mas agora, com 300 amigos em volta, recebendo palmadinhas, nas costas, milhões de presentes, entupindo-se de champanhe paga pelos outros, o aniversário anterior devia ser esquecido.
A amiga perguntou se agora ele estava feliz. Não respondeu. Estou pior do que no ano passado.
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